Um estilo de programa de TV que ganhou espaço cativo junto ao público é o dos reality shows, que se apresentam com a proposta de mostrar “a vida real”, através da convivência entre pessoas de diferentes características e personalidades. O primeiro programa do tipo foi ao ar em 1973, nos Estados Unidos, mostrando o dia-a-dia de uma família de classe média. A partir dos anos 2000, os reality tomaram formas variadas e chegaram ao Brasil, resultando na criação de programas como Big Brother, Casa dos Artistas, No Limite, De Férias com o Ex e A Fazenda.
Seja em casas confortáveis, fazendas ou em lugares inóspitos para que sobrevivam, os participantes desses programas são submetidos a situações que eles evitariam se estivessem seguindo a vida normalmente, convivendo uns com os outros e disputando prêmios em competições – e se envolvendo nos inevitáveis conflitos. Uma fórmula que traz índices muito altos de audiência.
“Suponho que [o grande sucesso dessas produções] é porque as pessoas se reconhecem naqueles personagens, observam que as vilanias acontecem com todo mundo, que alguém que é vítima em uma situação, pode ser algoz em outra. Identificam-se e talvez se sintam vingados, protegidos, se encontram naquelas pessoas em crise”, considera a psicóloga Marcela Teti, professora do curso de Psicologia da Faculdade São Luís de França (FSLF) e integrante do Núcleo de Desenvolvimento Docente (NDD) do Grupo Tiradentes.
Estar em situações que não fazem parte do seu dia a dia e em um ambiente estranho faz com que os participantes dos reality shows coloquem à frente o pensamento analítico. Marcela explica que, diante da novidade, o cérebro precisa entender que será necessário aprender a viver de novo, visto que não há nada igual ao que se vivia antes; e que além disso, cada pessoa precisa entender os outros participantes e aprender a conviver e a interagir com cada um deles.
“A sua identidade é moldada pelas relações que você mantém com o mundo externo. Se o mundo muda, você muda com ele também. Você vira outra pessoa, com outros pensamentos, sentimentos, comportamentos. Isso demonstra somente a evolução do ser humano e o mais importante: que a sua identidade é social, não é interna, nem nasceu com você”, salienta a psicóloga.
Vale ressaltar que, o participante, ao entrar em um programa televisivo com esse formato, deve se ter em mente que ali não é a própria casa, e que os colegas de reality não devem ter o mesmo tratamento dispensado a familiares ou amigos mais íntimos. “Ainda que existam atitudes similares, são outros pensamentos, outros sentimentos. No entanto, depois de algum tempo, quando se aprendeu a conviver lá dentro e se passou a entender quem são as novas pessoas que convivem com você, o que vigora é o pensamento intuitivo”, destaca Marcela.
Para a professora, os reality ajudam a ver que os problemas da vida são resultado de ego ferido. “O rechaço nada mais é que reforço negativo. Quando uma pessoa é cancelada na Internet, nada mais é que a resposta punitiva a um comportamento público, verbal ou não verbal, que a sociedade, ou que os seguidores, não gostaram. As regras sociais, nas famílias, nas escolas, nas empresas, nas redes sociais, são regidas pelo esquema ‘reforço/punição’. Melhor é resolver o que tiver que resolver e aproveitar a vida com o que se tem de melhor: viver bem na presença dos outros”, conclui