Os pintores do século XV, em sua maioria, tinham o objetivo de trazer em suas pinturas um realismo exacerbado para aqueles olhos curiosos que caíam sobre suas artes para a tal apreciação. No Renascimento, por exemplo, tivemos como sua principal característica esse desejo da representação do real, que consistia em um grande jogo de perspectivas que buscavam, desde então, dar mais dessa realidade.
Enquanto o Renascimento se preocupava em se assemelhar incessantemente à natureza representada, o crítico André Bazin estimula sua ideia de que a imagem fotográfica, surgindo no século XIX com suas primeiras máquinas, veio cumprir aquilo que a pintura nunca chegou a efetuar: reproduzir o objeto ou modelo tão semelhante quanto a sua forma. Com isso, Bazin afirma que a fotografia é mais real que a pintura, na qual sua objetividade — vinda diretamente das lentes objetivas da câmera — briga ferozmente com a subjetividade das pinturas. Mas até onde as lentes poderiam capturar esse momento de realidade?
Fazendo referência ao filme Blow-Up, do diretor italiano Michelangelo Antonioni, temos um renomado fotógrafo de moda, Thomas, que encontra-se angustiado na tentativa de compreender qual mensagem suas fotos tentavam lhe passar. Ao fotografar um casal no parque e ser abordado pela mulher, na qual estava nervosa pelo ”flagrante” de Thomas e que insistia em dar os negativos à ela, foi convencido pela curiosidade que tanto o instigava a respeito do resultado de suas fotografias. Revelando e ampliando-as repetidas vezes, percebe que suas lentes talvez tivessem capturado aquilo que seus olhos deixaram por passar despercebido: um assassinato.
O personagem principal revirava-se na tentativa de ter uma verdade. Não sabia se seus olhos o enganavam ou as fotos eram de fato um flagrante do homicídio. Chegou a ver um cadáver ao visitar a suposta cena do crime, mas, ao voltar novamente no mesmo lugar, não tinha mais nada no matagal. Mas será que realmente chegou a ver um corpo? Afinal, havia saído anteriormente de uma festa, onde todos estavam bêbados e drogados. E se foi uma miragem? A sua obsessão poderia ter criado uma prova? Em toda a correria durante o filme, Thomas se encontra duvidando de suas fotografias, o que Bazin prometia ser a exatidão do real.
Quando as imagens nos instigam e enganam, não param de replicar os mais variados ‘cenários’, criando-se nas mais diversas superfícies. Por ampliar tanto as fotografias, cenas foram produzidas a partir de cada zoom dado por Thomas, formando assim um tipo de imagem, no qual levou-o a crer em ter visto uma arma saindo entre os arbustos.
A imagem atravessa e armazena-se no nosso consciente, onde o campo visual atinge uma memória no qual permite interpretações. Conclui-se assim, que a impressão que temos ao nível visual não pertence somente aos nossos olhos, mas também à imaginação. Uma separação entre real e imaginário. Entre imagem da coisa e a coisa em si. Porém, também vemos aquilo que queremos ver, uma corrida cansativa à procura de uma explicação para tudo. Uma pseudo realidade beirando a ilusão. Thomas foi enganado ou se enganou?
Ana Luiza Portella – estudante de jornalismo