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Poema do livro “Sad trip”
“Raquel está aqui em sua busca por uma verdade que só se revela em verso: entre o dito e o não dito, evoca Guimarães. E, no desfecho da viagem, nos deixa sedentos por outras futuras rotas em verso.”
Trecho da orelha assinada por Francesca Cricelli
Livro de estreia da poeta, ensaísta e professora de literatura Raquel Campos (@raquelbcampos), “Sad trip” (Corsário satã, 72 páginas) mescla as atuais reflexões da vida adulta com uma linguagem divertida, repleta de construções poéticas, feitas com gírias e expressões coloquiais utilizadas por sua geração. A obra veio ao mundo por um convite de Natália Agra, poeta que junto Fabiano Calixto toca a editora independente Corsário Satã, e tem a orelha assinada pela tradutora, pesquisadora e também poeta Francesca Cricelli.
Luto, fracasso, sexualidade, amor e inadequação social são alguns dos temas explorados pela autora nesse livro que foi escrito durante o auge da pandemia, quando o país vivenciava o isolamento social e a autora refletia sobre sua própria vida, como a mudança de Brasília, cidade onde sempre viveu, para São Paulo, e a sensação de derrota que a pandemia impôs. Sendo assim, “Sad trip” também se constrói como uma obra em movimento, sendo composta por diálogos com referências, situações cotidianas, expectativas frustradas e contradições humanas tratadas com um certo humor.
Esse movimento já tem se refletido na circulação da obra: Alvaro Dutra, a quem o livro “Sad trip” é dedicado, gravou um LP contendo cinco poemas de Raquel Campos musicados e o poeta, tradutor e crítico venezuelano Jesús Montoya traduziu onze poemas do livro de estreia de Raquel para a revista eletrônica de literatura Círculo de Poesía.
“‘Sad Trip’ é reflexo do seu tempo e inclui questões como a sexualidade feminina, a mudança de cidade que vivenciei e a frustração com os obstáculos mais dolorosos da vida, como a perda, o luto e a inadequação social”, afirma a autora. Apesar do título, do processo e do tema evocar um livro em que a tristeza é o ponto de partida e a linha de chegada, Francesca Cricelli afirma com razão que a obra vai muito além:
“[…] não se deixe enganar pelo título, leitor. O poema-prefácio aponta para uma primeira vitória, quase por via de uma loteria. A ela, supostamente, seguem-se tropeços e derrotas, mas toda exploração do eu e do Outro, pensando aqui com a voz de Rimbaud, nos versos da Raquel, é acompanhada por uma brilhante ironia e uma polidez na forma. A voz junta-se aos solitários, em contraposição aos “united”.
Quando o viés autobiográfico se encontra com referências nacionais
A brasiliense Raquel Campos nasceu em 1988, é poeta, ensaísta e professora de literatura. Atualmente, trabalha como editora na Relatar-se. Foi professora de Teoria Literária da UNESP (2021-2022) e co-organizou o livro “HC 21: leituras de Haroldo de Campos” (7Letras, 2021). Acadêmica, tem pós-doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e doutorado em Literatura pela Universidade de Brasília (UNB).
“Sad trip” é seu primeiro livro, mas sua incursão poética vem desde a infância. Um de seus primeiros poemas foi um poema concreto, escrito quando tinha seis anos. Segundo ela, nessa época não havia nenhuma intenção formal de fazer um poema, apenas a sensação de liberdade de poder brincar com as palavras, mas o desejo de escrita e de experimentação que a guiam hoje já se faziam presentes. Antes de sua estreia oficial, Raquel usou a internet para compartilhar poemas e teve uma plaquete publicada pela Galileu Edições.
Suas principais influências literárias são os poetas brasileiros, particularmente os concretistas de São Paulo, com quem conviveu desde a infância através do contato pessoal e das leituras que fazia sendo neta do poeta Augusto de Campos. “Sad trip” inclusive conta com poemas que homenageiam algumas dessas referências, tais como Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari. Além disso, ressalta que os poetas Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa e Cesário Verde fizeram parte de sua formação poética, tendo sido muito lidos durante sua adolescência.
Atualmente, tem estudado bastante poesia contemporânea, focando em poetas mulheres, como Marília Garcia, Miriam Alves e Francesca Cricelli, que assina a orelha de seu livro de estreia. Em relação ao processo de “Sad Trip”, a autora destaca Hilda Hilst e Paulo Leminski como influências diretas, apesar de ambos também terem feito parte de sua formação geral como poeta e leitora de poesia.
Seu próximo livro de poemas está no prelo e se chamará “Meninas, eu vi”. Segundo a autora, será publicado pela editora Relatar-se ainda no primeiro semestre de 2023 e parte de uma perspectiva feminista a respeito da sexualidade e prazer femininos.
todo o meu sangue mensal
deixo escorrê-lo pelas pernas
gosto de manchar lençóis –
e cabeças – com a minha
tão íntima e suja
destreza
ser mulher
tem dessas
belezas
Poema 22 (página 32 de “Sad Trip”)
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