Passado o fervor do dia dos pais no Brasil, ficamos com uma reflexão muito séria rodando como pano de fundo em nossas mentes. Muitas pessoas postaram nas redes que os bons pais são raros, que homem é tudo igual, foge das responsabilidades, não tá nem aí para os filhos, entre outras coisas. Hum… Concordo em parte. Então, se você é um ser pensante, convido você para raciocinar comigo.
O homem está tão desvalorizado, com tantos modismos dizendo que homem não presta para nada, nem para sexo − pois tem até vibrador para a mulher imitando uma língua −, que fica mesmo difícil se tornar um pai reconhecido, ou “elogiado”, hoje em dia. Então, por que tanta gente anda atrás de um namorado ainda? As mulheres deveriam namorar entre si somente, isso evitaria tanto estresse. Mas não! Algumas mulheres querem namorar os homens simplesmente para falar mal deles, achincalhar o cara. Já virou uma válvula de escape para algumas mulheres que já sofreram abuso, não fizeram psicoterapia e acham ainda que não precisam. Sabemos, todas nós mulheres, que há muito homem que não dá conta mesmo do recado, nem de ser homem direito, quanto mais de ser pai! Mas colocar tudo no mesmo balaio de gatos já é um pouco de mais. Mulheres não querem ser equiparadas umas às outras, mas quando se trata de acabar com a raça de um homem, até inventar história fazem para ferrar com ele.
Dei uma entrevista em Londres, na Rádio Mais Brazil, e lá comentei sobre um dos vários casos que conheço, vi ou ouvi falar. O rapaz estava filmando a moça e ela não sabia, obviamente, pois não conseguiria pegá-la no ato se ela soubesse. Ela olhava para ele e gritava, “ai, para de me bater”, e batia no próprio braço e o beliscava. E ele falava “você tá doida, você sabe que não estou te batendo”. E ela dizia “mas os vizinhos estão me ouvindo gritar, depois vou à delegacia e digo que foi você, daí você tá ferrado, vou acabar com sua vida”. Ele colocou o vídeo na internet (não sei se vai receber um processo por uso da imagem dela), mas quando mostrou a ela que estava gravando, ela ficou mais louca ainda e partiu para cima dele. Ele correu com o celular e saiu de casa. Como terminou essa história não sei, sei que ela foi exposta para milhões de pessoas.
Homens são bons e maus pais, e mães também são
Portanto, pudemos ver que, assim como a moça acima, muitas mulheres fazem esse tipo de coisa. Não estou dizendo que alguns homens não são violentos, que não há abuso, espancamentos, e tudo o mais, apenas tentando demonstrar que o contrário também ocorre. Há homens que mesmo sem ser pais, já não são “boa bisca”, não são muito confiáveis, são realmente ruins de se relacionar, porém muitas mulheres não sabem sequer avaliar isso e se jogam de cabeça numa relação. Depois culpam o outro por seu infortúnio, má sorte ou ter tido um “dedo podre” – que não existe assim como dizem. Homens inventam, mulheres inventam. Homens traem, mulheres também. Homens são bons e maus pais, e mulheres também são mães más, boas ou, às vezes, “suficientemente boas”, como fala Winnicott. Somos todos humanos. Mas nós mulheres temos a tendência de acreditar piamente que quando outra de nós – coitada! – aparece com um braço roxo ou algo do tipo, essa é a única verdade possível.
“O que você está querendo dizer com isso?” – você me perguntaria. Eles criaram sua própria desvalorização, seu próprio inferno – você diria. Sim. Muitas vezes sim. Mas, e as mulheres, não? Por que precisamos acreditar numa única versão da história? Muitas coisas estão fora dos eixos, e provavelmente não será essa geração atual que vai dar ordenação ao caos, porém minha intenção com esse texto não é sugerir nada, é unicamente fazer pensar. Por exemplo, este ano foi a primeira vez que o colégio do filho de uma amiga, comemorou o dia dos pais. Por que será? O dia das mães tem todo o ano! E ela me disse que sempre vê o pai na comemoração de dia das mães de sua filhinha, e não viu a mãe por lá para prestigiar o pai em troca. Estranho?
Você sabia que é a mãe quem permite a aproximação do pai?
Na psicanálise, reconhecemos que a mãe é quem apresenta o pai para o bebê, pois, geralmente quando o bebê nasce, é ela a primeira figura que ele vê, olha e sente o cheiro. É responsabilidade da mãe permitir a entrada do pai nessa relação primordial que se dá entre bebê e mamãe. Mas algumas mulheres, como se quisessem se vingar de algo entre o casal, uma briga, uma relação que não deu certo, não permitem a aproximação do pai, alegando que ele não sabe nada, que está se metendo na sua maternagem e tudo o mais, e criam um pandemônio na vida dos filhos a fim de atingir o homem. Você acha isso legal? Elas conseguem literalmente afastar tanto o homem que, quando ele de fato desiste de lutar, então, ele abandonou o filho e não vale nada, passando a ser o pai que nunca prestou.
Estou generalizando aqui porque estou falando de homens e mulheres do cotidiano, dos lugares pelos quais passo, atendimentos que faço, experiência de vida de professora, então não devo de forma alguma especificar. As mulheres reclamam de não terem suporte, rede de apoio, grana, enfim, mas saibam que há pais querendo fazer isso e, como já disse, algumas não deixam. Quando falo mãe, só para ficar claro aqui, falo de quem exerce a função materna de nutrir e dar amor, tanto fazendo quem seja. A função materna é a de apresentar o pai, e a função paterna é a de apoiar e dar suporte à mãe.
Entretanto, vou brincar um pouco com os discursos usados para classificar e tipificar os pais, homens, apesar de discordar veementemente sobre isso. É claro que isso serve também para algumas mães que também abandonam o lar, como queixam que só o homem faz, não dão amor, atenção, carinho, entre outras coisas aos filhos. Ninguém nasce mãe, vai se fazendo no trajeto. Um bebê não pode existir sozinho, mas dizer que quando ele nasce, nasce uma mãe ou um pai, é tão errado como dizer que sei comer saudavelmente só porque tenho boca ou sou nutricionista. Portanto, tudo é aprendizado. Tanto o pai quanto a mãe são pessoas que deveriam buscar ajuda ao nascer uma criança ou deveriam se preparar até bem antes dela nascer. Saber se realmente querem o bebê e, o filho chegando, como compartilhar as obrigações entre ambos. Amar também se pode aprender. Às vezes há uma sementinha dentro de nós que, se bem regada, floresce.
Agora, bora rir um pouco?
Vamos rir um pouco para descontrair, porque ninguém é de ferro e esse papo já é bem sério. Os pais considerados “meia-boca”, são aqueles que não tugem nem mugem, não fedem nem cheiram. Estão ali ao lado da mulher, brincam com a criança, cuidam, trocam fralda, apoiam, mas se há algo a ser resolvido é a mãe que entra em campo e faz o gol.
Pais maravilhosos “em aprendizado”, em processo de amadurecimento (trazendo aqui a observação de que pensar que todos somos muito maduros é uma ilusão) são aqueles que além de tudo o que fazem, participam do parto, lavam louça, vão ao mercado, cuidam no momento da doença, entram na briga, compram o barraco, fecham o campinho para o jogo e fazem questão de arbitrar a favor da mãe e do bebê. Estes seriam os pais suficientemente bons, a meu ver.
Pais “espetaculares”, o ideal nunca alcançado, são aqueles que estão no plano do imaginário, são os guerreiros que nunca se cansam, os heróis que atravessam os despenhadeiros e os campos de batalha intocáveis, aqueles que quase tornam-se a mãe, ou porque foram abandonados com os filhos, ou porque aprenderam que não há quem faça em seu lugar (como ocorre com algumas mães). Esse tipo de pai fecha o estádio, compra todas as bolas e fica incansavelmente treinando para se tornar melhor. Afinal, todos somos feitos da mesma substância, não é? Somos feitos de carne e osso.
Então, que tipo de pai você é?
E se você é mãe, envie para um pai que precisa ouvir essas coisas ou para aquela sua amiga que ainda não parou para pensar sobre.
Janice Mansur é escritora, poeta premiada, professora, revisora de tradução,
criadora de conteúdo e psicanalista (atendendo online).
Contemplada no Top of Mind Awards Internacional UK 2022,
na categoria Escritora Destaque do ano.