Originalidade fora do ar: Desventuras da TV em um sistema de produção em série

6 min. leitura
Foto: Pinterest

A discussão sobre o capitalismo estar atrelado diretamente ao estilo de vida da sociedade nunca foi inédita. Suas influências sempre foram estudadas até mesmo na década de 1940, onde o termo Indústria Cultural, por exemplo, nasceu nos braços da Escola de Frankfurt e foi criada pelos seus grandes pensadores. Depois de descoberto, não foi difícil de perceber, no fim, que o espetáculo criado pelo capitalismo se apropriando da cultura não seria uma grande peça de sucesso sem um público a assisti-lo. Sem esse público em suas mãos, o ‘teatro’ viria à miséria.

De acordo com a escola alemã, o ‘escapismo’ oferecido pela indústria cultural se torna facilmente como um instrumento de manipulação, no qual tal fuga é realizada através dos meios de comunicação. A cultura de massa, nessa pauta, consegue atuar bem minuciosamente, já que a mesma vai ao encontro do seu público, seu público alvo, pesquisa o que vem a ser o interesse mais predominante e o torna como um padrão no momento da produção. Seguida a receita do sucesso, o enredo envolve, então, personagens manipuladores e manipulados.

Os meios de comunicação foram a chave para a efetivação dessa manobra manipulada, pode-se dizer. E para continuar a prática dessa receita nos novos meios que surgiram nos últimos anos, a necessidade de se moldar nesse ambiente digital foi indispensável. A internet, inevitavelmente, nos transformou em uma ‘sociedade da urgência’, onde surgiu desse campo a necessidade do consumo a todo e qualquer instante, seja de informação ou entretenimento. Os telefones móveis e computadores entregaram essa inovação da rapidez, entretanto, apesar da tecnologia ter se adaptado à modernidade, a TV ainda atinge, veementemente, mais gente do que a rede de internet. Sua influência atualmente no Brasil conta com 207 milhões — levando em consideração a média de 3 pessoas em cada casa — , enquanto usuários da web somam 169 milhões.

Se conectar no mundo virtual requer recursos, de certa forma. A aquisição, primeiramente, do aparelho e o acesso a uma rede de internet, é primordial, chance esta que muitos no país não possuem. Com isso, o antropólogo Canclini afirma que a TV exerce um forte papel: ser o lugar que a modernidade midiática reserva aos excluídos, oferecendo-os um tipo de espetáculo distante. As famílias brasileiras cresceram ao redor da TV. Sempre foi como programação assistir a telejornais e acompanhar diariamente cada capítulo de uma novela. Por meio desta última sentença citada, há de se acreditar que toda a força televisiva parte dessa influência cultural quase que centenária, mas acompanhada também de outro simples ato presente em diversas famílias: o da necessidade. A realidade presente nesse país tropical é de ser desigual por natureza, já que 46 milhões de pessoas ainda não possuem acesso à internet, o até então, conhecido veículo democrático.

No Brasil, a TV aberta se moldou inevitavelmente — se é que acreditamos ainda por não ter sido proposital — ao tópico padronizado de produção, atendendo a essa grande massa que os assiste. Com essa padronização em série e transformando a informação em mercadoria, que visa interesses econômicos, até onde poderíamos considerar que esse espetáculo apresentado realmente se aproxima do fato ocorrido? Mesmo sendo um instrumento de socialização e de desenvolvimento de identidade, a venda da notícia está acima da verdade, ‘fabricando-a’ para certo público e massificando produtos e ideias.

E vivendo numa era digital, foi de se esperar que sua adaptação viria a acontecer, porém, do pior jeito possível: comprando formatos pré-fabricados. O meio televisivo dificilmente apresentará uma alternativa exclusiva quando tudo que apresenta chega antes no meio virtual na velocidade da luz. A TV brasileira, hoje, se prontifica na venda de cópias, onde sua originalidade se perdeu em um passado distante e numa indústria cultural que visa apenas em lucros.

Onde deveria ser um verdadeiro veículo democrático e para dar liberdade aos indivíduos, obstáculos foram postos para o desfrute do mundo da internet, onde resta para os envolvidos, então, recorrer a essa grande e velha caixa mágica em cores, que ainda resiste, no fim, por causa desse público fiel que a acompanha e por ser o único recurso de informação que podem possuir. A vida da televisão, que se encontra praticamente respirando por aparelhos, trata-se de parasitar diante de indivíduos cercados por desigualdade e usados como instrumento de lucro. Os manipulados são as galinhas de ovos de ouro da indústria capitalista.


Ana Luiza Portella – estudante de jornalismo

Deixe um comentário
Cadernos
Institucional
Colunistas
andrea ladislau
Saúde Mental
Avatar photo
Exposição de Arte
Avatar photo
A Linguagem dos Afetos
Avatar photo
WorldEd School
Avatar photo
Sensações e Percepções
Marcelo Calone
The Boss of Boss
Avatar photo
Acidente de Trabalho
Marcos Calmon
Psicologia
Avatar photo
Prosa & Verso