A titia Globo está nos brindando com a reexibição de O Rei do Gado (1996-1997). Eu, noveleiro que fui nos anos 1990, quando nas manhãs de domingo abria os cadernos de TV enquanto admirava as crônicas rurais do Zé Hamilton, já assisti este clássico em quatro oportunidades. Incluo nesta conta a original delas.
A última coincidiu com o começo da edição veiculada, pela terceira vez, no Vale a Pena Ver de Novo. Se pudesse pedir música no Fantástico, a reprise desta obra maravilhosa seria um pot-pourri entre Admirável Gado Novo e Mia Gioconda.
Mas, falando sobre a trama em si, o ideal seria batizá-la de Reis do Gado e do Café. Fagundes esteve em inquestionável forma, é fato. No entanto, o que Raul Cortez fez é algo para ser estudado e reverenciado. O eterno decano pegou o boi pra si, colocou no meio do cafezal onde sua irmã Giovanna se deitava com o maledeto do Enrico Mezenga e falou “Essa novela também é minha, cáspita!”.
Quem também precisa ter todo o destaque é a parceira de cena de Raul, Walderez de Barros. Acredito que Judite merecia ter ficado com Geremias antes dos capítulos finais. O molho entre os dois é qualquer coisa de maravilhoso. Sempre atenta e fiel, Juditinha é a escorpiana nata: ouve longe, se finge de sonsa, junta A com B numa velocidade incrível e, na hora exata, encurrala os parentes Torre de Pisa! Ecco, Judite! Ecco!
Preciso falar ainda sobre a composição entre fotografia e trilha sonora. As sequências de Geremias na Itália, com Mia Gioconda, além de Admirável Gado Novo, quando Luana, Regino e companhia entram em cena nos assentamentos da vida, exalam uma sintonia que, humildemente, considero impecável.
Já ao baixar a agulha da vitrola na faixa Mia Gioconda, até quem não gosta de vinho é capaz de abrir uma rolha tinta de qualquer coisa só pra se sentir, ainda mais, na sala de estar da velha fazenda do tio maledeto. Qualquer coisa seca, por favor. Suave é (deve ser) a vida. E só!
Não posso deixar de ao menos citar a grande interpretação de Carlos Vereza, com o senador Caxias. Uma curiosidade é que, à época, o finado Vídeo Show mostrou os bastidores das gravações do velório do parlamentar. O fato engraçado foi que o ator acabou cochilando no paletó de madeira do descanso eterno, ou temporário.
Mas essa conversa entre eterno ou temporário é assunto pra Otávio Jordão, o advogado que ajudou a condenar o endiabrado angelical Alexandre Toledo em A Viagem e, portanto, encarnação anterior de Bruno Bê ponto Mezenga.
Por tudo isso, acredito que a sequência final da trama, ou seja, o casamento entre Bruno e Luana, seja uma ode ao seu sucesso retumbante. Ali, já não havia mais Menzenga, Berdinazzi e nem ex-boia-fria que caiu do caminhão e, se não me engano, perdeu a memória. Era a confraternização entre os bambas da coisa toda!
O Rei do Gado (e do Café) é, sem dúvida, a rainha das novelas!