O mercado de capitais e a tokenização: a nova fronteira da eficiência financeira

Redação
5 min. leitura

*Ricardo Guimarães

Nos últimos 25 anos, tive a oportunidade de acompanhar, de dentro, as transformações mais relevantes do mercado de capitais brasileiro e internacional. Vi o sistema financeiro evoluir da intermediação tradicional para um modelo mais aberto, digital e acessível. Agora, presenciamos um novo salto: a integração entre os mercados regulados e o universo da tokenização de ativos reais.

Falar de tokenização não é mais uma discussão teórica ou futurista. É uma realidade que está reformulando a forma como o capital é captado, distribuído e monitorado. Na essência, tokenizar é representar digitalmente um ativo real, seja um imóvel, um título de dívida ou uma participação societária, em uma rede segura e transparente, baseada em tecnologia blockchain. Essa transformação não é apenas tecnológica, é estrutural.

Durante minha trajetória em instituições como XP Investimentos, Banco Inter e agora à frente da AXT Proptech, percebi que a tokenização resolve um problema histórico do mercado de capitais: o da liquidez. Fundos imobiliários, debêntures ou participações privadas sempre enfrentaram desafios de negociação e transparência. Com a tokenização, esses instrumentos passam a ser negociáveis de forma instantânea, auditável e fracionada, o que democratiza o acesso a investimentos antes restritos a grandes investidores.

Outro ponto que considero fundamental é a eficiência regulatória e operacional. No modelo tradicional, cada transação demanda intermediários, registros manuais e conciliações demoradas. Com os contratos inteligentes e o registro distribuído, o mercado passa a operar com menos fricção e mais segurança. A rastreabilidade das operações em blockchain garante conformidade e reduz custos de compliance, sem eliminar o papel do regulador, que continua essencial para validar e supervisionar o ambiente de negociação.

Mas o que torna a tokenização realmente poderosa é a sua capacidade de integrar o mundo TradFi (finanças tradicionais) com o universo DeFi (finanças descentralizadas). Na prática, é a ponte entre a institucionalização e a inovação. A convergência entre esses dois ecossistemas permitirá a criação de novos produtos híbridos, com base em ativos reais e liquidez digital, lastreados em infraestrutura regulatória sólida.

Na AXT Proptech, por exemplo, aplicamos esse conceito no mercado imobiliário norte-americano, tokenizando ativos provenientes de Tax Liens e Tax Deeds. É um setor de mais de US$ 22 bilhões anuais, tradicional e regulado, mas que ganha eficiência e acesso global ao ser digitalizado. Com isso, investidores brasileiros podem participar de operações dolarizadas, com segurança jurídica e retorno previsível, por meio de frações tokenizadas de imóveis e certificados de dívida.

A tokenização não é apenas uma tendência, é uma consequência natural da maturidade do mercado. Assim como os fundos de investimento e as bolsas eletrônicas transformaram o acesso ao capital no passado, agora vivemos a fase da desintermediação tecnológica com responsabilidade regulatória.

O desafio está em educar investidores, reguladores e instituições sobre o potencial transformador desse modelo, sem perder de vista a segurança e a transparência que sustentam qualquer sistema financeiro sólido.

Acredito que, em poucos anos, deixaremos de falar em “ativos tokenizados” como uma categoria à parte. Todos os ativos relevantes, sejam públicos ou privados, estarão registrados, fracionados e negociados digitalmente. O mercado de capitais se tornará verdadeiramente global, acessível e eficiente.

E quando isso acontecer, não estaremos mais discutindo se a tokenização é o futuro do mercado financeiro. Estaremos vivendo esse futuro, e para quem já se preparou, ele já começou.

Sobre Ricardo Guimarães

Ricardo Guimarães é economista formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e possui mais de 25 anos de experiência no mercado financeiro brasileiro. Foi sócio da XP Investimentos, da Hurst Capital e do Banco Inter, onde participou da criação de produtos estruturados e fundos imobiliários inovadores. Atualmente, é CEO da AXT Proptech, empresa de tecnologia com atuação nos Estados Unidos e foco na originação, gestão e tokenização de ativos imobiliários oriundos de Tax Liens e Tax Deeds.

Com sólida trajetória no mercado de capitais e profundo conhecimento em finanças tradicionais (TradFi) e finanças descentralizadas (DeFi), Guimarães lidera iniciativas que conectam investidores globais ao mercado imobiliário norte-americano por meio da tokenização de ativos reais (RWAs). Sua atuação tem como propósito democratizar o acesso a investimentos dolarizados, com segurança jurídica, eficiência operacional e impacto positivo nas comunidades locais.

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