Aos 70 anos de vida e com 55 anos de vida artística. Fausto Silva deixará a Rede Globo e o comando de seu programa, o Domingão do Faustão no fim do ano. O apresentador, que possui uma vasta experiência tanto em Rádio quanto na Televisão, decidiu não renovar o seu contrato com a emissora que trabalha desde 1989, dando fim a era de um dos apresentadores mais queridos e consagrados que a TV Brasileira já viu.
Antes de ingressar na Globo, Faustão se destacou através do programa Balancê na Rádio Excelsior de São Paulo, mas foi na Televisão que o comunicador despontou à frente dos Perdidos na Noite. A atração que virou sucesso em todo o Brasil, tornou-se símbolo de uma geração que oscilava entre a euforia pelo fim da ditadura e a preocupação com a economia em frangalhos, juntamente com a irreverência e o improviso de seu comandante, existentes até hoje.
Com Fausto Silva, o povão se viu outra vez, e de cara lavada, na tela da Globo, que, por algumas horas, deixava de lado o seu padrão de qualidade para fazer algo propositalmente informal. Uma vez que, a emissora de líder se via carente de programas de apelo popular, como era o Cassino do Chacrinha, extinto em 1988 com a morte de seu apresentador. A partir daí, protagonizou três décadas de uma guerra sem tréguas pela liderança de audiência aos domingos. Entre erros e acertos, derrotas e vitórias, conseguiu firmar a Globo no topo do pódio e ocupar um espaço nobre na memória afetiva de milhões de brasileiros através de quadros antológicos: de Olimpíadas do Faustão a Dança dos Famosos, passando por Jogo da Velha, Arquivo Confidencial, Se Vira nos Trinta, Sexolândia e, claro, Videocassetadas, verdadeira instituição dos fins de semana tupiniquins.
Uma das curiosidades mais lembradas pelos telespectadores e os fãs apaixonados por Televisão, é a guerra dominical de audiência com o apresentador Gugu Liberato, à frente do seu Domingo Legal no SBT nos anos 1990. Concorrentes diretos, cada programa tinha o próprio método peculiar para conseguir um segundo que fosse da atenção dos telespectadores, apresentando de tudo um pouco, inclusive, quadros com apelos sexuais que variavam do Sushi Erótico até a Banheira do Gugu. Apesar de ter uma repercussão negativa na época, a tática de vale tudo entre ambos apresentadores só chegou ao fim em 2003, quando o apresentador do SBT exibiu uma entrevista falsa com membros do PCC — o que abalou para sempre sua reputação, deixando Faustão na liderança isolada até os dias de hoje.
Responsável por bordões inesquecíveis como “Errou…” e “Tá pegando fogo aí, bicho..”, Faustão deixa um grande legado para os atuais e futuros comunicadores de que é possível fazer um bom programa de auditório sem a fórmula do assistencialismo, representando o espírito de animador que só o apresentador e Silvio Santos possuem atualmente, capazes de alegrar gente do povo que, de forma genuína, quer se divertir e se aproximar daquele ídolo que parecia inatingível. Tanto que muitos artistas encaram a ida a atração como a certificação do seu sucesso, marca maior do auge de suas carreiras.
O fim do Domingão representa um ponto final naquela que foi a mais bem sucedida tentativa da Globo em se tornar mais popular, alcançando um bom costume do brasileiro em sintonizar no Faustão, que liga conteúdos tão distintos como ninguém.
Gabriel Ferreira – Estudante de Jornalismo