O Amor e Seus Fins, de Cris Wersom, investiga a desconstrução do modelo das relações amorosas e dos afetos

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Foto de Vitor Vieira

O casamento como uma instituição capitalista e a concepção romântica do amor são colocados em xeque em O Amor e Seus Fins, escrito e protagonizado por Cris Wersom e Rodrigo Scarpelli. O espetáculo estreia no dia 28 de outubro no Galpão do Folias, onde segue em cartaz até 4 de dezembro.

A dramaturgia surgiu de um desejo que Wersom e Scarpelli tinham de montar uma peça juntos desde que se formaram na EAD-USP. Para a direção, eles convidaram Fernanda Raquel, que também estudou com a dupla.

“Na pandemia, fizemos chamadas de vídeo para matar a saudade e líamos diferentes textos para nos inspirarmos. Lemos ‘Cenas de um casamento’, de Ingmar Bergman, e veio a grande pergunta: é possível se relacionar dentro do casamento de maneira saudável? Ficamos quase um ano pesquisando sobre o tema e tentando responder essa pergunta. Não sei se temos a resposta, mas encontramos interessantes paralelos entre o amor e suas finalidades dentro da sociedade”, revela Cris Wersom.

Rodrigo Scarpelli conta que nesses encontros muitos outros textos ajudaram a definir o que eles gostariam de investigar. “Há uns anos tentamos adaptar o conto ‘O Jogo da Carona’, de Milan Kundera, mas não conseguimos obter os direitos. Agora essa obra voltou às nossas leituras. Mas lemos também ‘Carta a D’, de André Gorz; ‘Dialética da Solidão’, do Antonio Paz; ‘Amor nos Tempos do Capitalismo’, de Eva Illouz; ‘Reinvenção da Intimidade’, de Christian Dunker; e muitos outros temas, textos, contos e ensaios que discutiam ou versavam sobre o amor/amar e serviram como grandes referências”, esclarece.

A trama do espetáculo acompanha um casal que decide se divorciar depois de 16 anos de um casamento aparentemente feliz. Uma mulher e um homem colocam o contrato na mesa, mas não conseguem assinar os papéis. Entendendo que o amor não foi suficiente para sustentar essa relação, começam um processo de desconstrução e rupturas. Conversam, dançam, brigam, riem e se humilham, num jogo angustiante de aproximações e distâncias. Tentam assim criar outras narrativas. 

Ao fazerem isso vão percebendo que o casamento deles não é só deles, carregam as relações de seus pais, avós, amigos, vizinhos. Todos estão engendrados num sistema fracassado, mas ainda assim, seguem reproduzindo os mesmos padrões. A peça termina sem resposta, mas com a sensação de que, antes de se construir algo novo, ainda será necessário a constante desconstrução de um sistema que não se sustenta mais. 

E, sobre essa necessidade, a diretora Fernanda Raquel diz: “Definitivamente não é uma peça contra o amor. É uma peça sobre os fins de um modelo, de um ideário constituído, do ‘casamento como perversão consentida’, como escreveu Christian Dunker. Quem sabe quando nos libertarmos desse modelo, e de tantos outros que aprisionam as inúmeras possibilidades de sermos e estarmos no mundo, possamos amar o amor, amar as pessoas e inventar outros contratos, outras relações menos capturadas pelas formas econômicas, outros afetos e desejos mais amorosos”.

“Ao mesmo tempo que aponta para possibilidade do amor, a peça escancara o fim do casamento como vemos hoje. Lá atrás, o casamento era um negócio. Hoje, a nossa busca é pelo amor e pela felicidade. As insatisfações, as traições, o arrependimento de ter formado uma família, tudo isso foi forçando essa sociedade a aceitar o divórcio. Vimos o fracasso das relações dos nossos pais, mas ainda não conseguimos inventar uma outra forma mais honesta de nos relacionarmos. Como mulher, entendo que o patriarcado é um grande inimigo das relações amorosas e, talvez, a mudança tenha que vir de fora para dentro, do público para o privado”, complementa Wersom.

A encenação, de acordo com Fernanda Raquel, propõe um espaço de jogo que vai se configurando de diferentes maneiras ao longo da ação. “A separação entre o público e os atores é um tanto borrada. Aliás, gerar proximidades e distanciamentos – espaciais e simbólicos –, através das sonoridades, luminosidades e elementos cenográficos, tem sido a tônica do processo. A criação de perspectiva é uma prerrogativa também para a atuação. Não aderir completamente às personagens nos parece uma tática importante para tensionar o drama que eles vivem – e a própria estrutura dramatúrgica”, antecipa.

Outra referência importante para a direção é a dança. “Há um pensamento coreográfico que atravessa toda a encenação. A ideia de um dueto entre Cris e Rodrigo, que também se transforma em duelo, tem conduzido as práticas de ensaio, entre o mínimo de movimento e o máximo de expansão corporal, brincando com o texto, num jogo de montagem e desmontagem desse casal, e dessa atriz e desse ator”, pontua a diretora.

Sobre Fernanda Raquel – diretora

Artista da cena formada pela Escola de Arte Dramática da USP, Fernanda Raquel é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa focada nas artes do corpo. Autora do livro “Corpo Artista – estratégias de politização”, Ed. Annablume/Fapesp (2011) Foi idealizadora, ao lado de Victor Nóvoa e Helena Cardoso, do projeto Insones (PROAC 01/2017), atuando como atriz e produtora da peça. Também idealizou o projeto Nós, os outros ilesos, dramaturgia de Toshiki Okada e direção de Carolina Mendonça (PROAC 01/2016). Como atriz seus principais trabalhos foram: Valparaíso um esboço, Ato sem Palavras I; Amor e Restos Humanos; A Ópera do Malandro; além do espetáculo infantil Yuuki!!! O Pequeno Samurai. Integra o grupo As Meninas do Conto desde 2010 e em 2012 recebeu o prêmio APCA de melhor atriz de teatro infantil com todo o elenco de Bruxas, bruxas… e mais bruxas!. No ano de 2006 passou temporada de estudos no Japão, com mestres como Yoshito Ohno e Akira Kasai, além de colaborar com o grupo Gekidan Kaitaisha. Em 2019 pesquisou sobre mulheres e território em Marselha (França) junto ao Thêátre de L’Oeuvre. Atuou como professora de corpo e improvisação na UNESP (2018), e também de Dramaturgia e Encenação no curso de Artes do Corpo da PUC/SP (2020). Integra o corpo docente do curso Técnico em Atuação da Academia Internacional de Cinema e da especialização em Técnica Klauss Vianna, da PUC/SP, além de lecionar na pós-graduação da Belas Artes.

Sobre Cris Wersom – atuação, dramaturgia e idealização da peça

Atriz e roteirista, Cris Wersom forma-se em 2006 pela EAD (Escola de Arte Dramática) USP. Dentre alguns trabalhos do teatro, destacam-se: Bosque Soturno dirigida por Otávio Martins, Segunda Okê com direção de Márcio Macena e texto de Cris Wersom, Na Cama, de Julio Rojas e direção de Renato Andrade, La Estupidez, com direção de Otávio Martins, Mulheres Ácidas com texto de Cris Wersom e direção de Cristiane Paoli Quito, dentre outros. Também participou de espetáculos como convidada ao longo de anos como o Improvável e Noite de improviso.

Foi cofundadora do grupo As Olívias onde viajou o Brasil todo com os espetáculos As Olívias Palitam, Riso Nervoso e Mulheres com X. Na TV atualmente é apresentadora do programa A Culpa é da Carlota, no Comedy Central. Também trabalhou como atriz em É tudo improviso na Band, Olívias na TV, no Multishow, Mal me quer na Warner, Hard na HBO, dentre outros. No cinema, trabalhou em Gostosas, Lindas e Sexies, direção de Ernani Nunes e Cabras da Peste de Vitor Brandt (ainda sem data de estreia). Como roteirista está atualmente contratada pelo Netflix. Antes disso, trabalhou por 2 anos na Globo no núcleo de humor. É roteirista de Homens, de Fábio Porchat e de A culpa é do Cabral, ambos no Comedy Central.

Sobre Rodrigo Scarpelli – atuação e idealização da peça

Rodrigo Scarpelli é ator formado pela Escola de Arte Dramática (EAD/ECA/USP) e também Bacharel em Teatro pela Escola Superior de Artes Celia Helena (ESCH). Entre seus trabalhos em teatro destacam-se: “As mãos sujas”; “Marta, Rosa e João”; “Ala de criados”,“Solidão”; “Querô, uma reportagem maldita” ; “Folias Galileu”, “Cabaré da Santa”; “Noel Rosa, o poeta da Vila e seus amores”; “Nunzio”; “Macbeth”;“Troilo e Cressida” ; “ KD EU?”, entre outros. Atualmente é colaborador do Grupo Folias.

Como diretor, dirigiu os seguintes espetáculos: “Histórias Banais”; “O moço que casou com mulher braba”; “A Familia Gillbert apresenta : O pé da árvore de natal”; “Nossas cidades invisíveis”; Treta no jardim” e “A paixão segundo Clarice Lispector”. No cinema estreou em março de 2017 “Um filme de cinema” com roteiro e direção de Thiago Mendonça. Na TV, participou de series como “Vida de Estagiário”, “Olivias na TV ”, Alice”, “O negócio” e “PSI”. Como Orientador de Artes Cenicas ministrou inumeras oficinas e workshops, foi professor de teatro no Conservatorio Dramatico e Musical de Tatui, na Casa do Teatro (Célia Helena), orientou grupos de trabalho na SP Escola de Teatro e tambem no Projeto Teatro Vocacional da Prefeitura Municipal de SP. Atualmente é Professor de Teatro e Contador de Historias no IADHEC.

Sinopse 

Depois de 16 anos de um casamento aparentemente feliz, uma mulher e um homem decidem se divorciar. Colocam o contrato na mesa, mas não conseguem assinar os papéis. Entendendo que o amor não foi suficiente para sustentar essa relação, começam um processo de desconstrução e rupturas. Conversam, dançam, brigam, riem e se humilham, num jogo angustiante de aproximações e distâncias. Tentam, assim, criar outras narrativas. E, ao fazer isso, vão percebendo que o casamento deles não é só deles. Dentro dessa sociedade burguesa, todos estão engendrados num sistema fracassado, mas ainda assim, seguem reproduzindo os mesmos padrões. 

Ficha Técnica

Dramaturgia: Cris Wersom

Direção: Fernanda Raquel 

Elenco: Cris Wersom e Rodrigo Scarpelli 

Direção Musical: Guilherme Calzavara 

Cenografia: Simone Mina

Iluminação: Aline Santini

Figurino: Ozenir Ancelmo

Comunicação: Pombo Correio

Produção: Catarina Milani 

Fotos: Vitor Vieira 

Ilustração: Victor Grizzo 

@’s da equipe:

@oamoreseusfins @criswersom @fer.nanda.raquel @roscarpelli80 @simone_mina @performphoto @ancelmoozenir @guicalz @oz_atelier @catamilani @dougpicchetti @helocintracastilho @instadapombo @vitorvieiraoficial_ @victor.grizzo 


Serviço

O Amor e Seus Fins @oamoreseusfins

Temporada: 28 de outubro a 4 de dezembro, de sexta a domingo

Sexta e sábado, às 20h. Domingo, 19h 


Galpão do Folias – Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília

Duração: 60 minutos 

Classificação: 14 anos

Ingressos: R$ 40 

Acessibilidade: Sim

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