Uma pesquisa inédita, feita em conjunto com a DataSenado e Nexus, apontou que 25% dos brasileiros foram vítimas de golpes digitais nos últimos doze meses. O país registro no ano uma tentativa de golpe a cada 3 segundos. O estudo revelou a vulnerabilidade da população e falha nos sistemas de segurança cibernética.
Os dados sobre fraudes pela internet e invasão de dados e contas bancárias estão no topo dos crimes mais comuns, segundo a pesquisa.
José Milagre, advogado e especialista em defesa de golpes nas redes sociais, para fornecer um olhar técnico e especializado sobre o tema. Ele pode explicar como os criminosos se aproveitam das plataformas e quais medidas podem ser tomadas para minimizar os riscos. Principalmente na semana que antecede a Black Friday.
A explosão das compras online, especialmente durante grandes eventos de desconto como Black Friday – 29 de novembro e Natal – , tem atraído criminosos para novas fraudes como o uso de anúncios pagos em redes sociais para atrair consumidores a lojas falsas. Imagens e descrições profissionais, fotos de alta qualidade e informações detalhadas são algumas das técnicas usadas pelos golpistas.
O Golpe funciona com a criação de lojas falsas – criminosos criam sites que parecem legítimos, imitando grandes varejistas ou criando “marcas” novas. O crime ganha visibilidade com anúncios no Facebook, Instagram e outras redes, prometendo produtos com descontos muito abaixo do mercado.
Geralmente, os produtos ofertados são itens populares e caros – oferecidos com “mega desconto”, tornando-se atraentes para vítimas que buscam promoções.
O advogado, perito digital e PHD em crimes cibernéticos, José Milagre explica como os golpistas conseguem usar algoritmos de publicidade nas redes sociais para atingir públicos vulneráveis e aumentar a visibilidade dos anúncios fraudulentos e quais são os sinais de alerta e falhas nas plataformas e as ferramentas disponíveis como medidas de proteção.
Com o aumento das tentativas de golpe digital, especialmente antes da Black Friday, quais são os principais sinais de alerta que podem ajudar os consumidores a identificar lojas ou anúncios fraudulentos?
“O principal sinal de alerta são as promoções exageradas, com descontos de 80% ou 90%, ou preços claramente incompatíveis com o valor de mercado dos produtos. Além disso, os criminosos têm utilizado redes sociais e aplicativos de mensagens para atrair vítimas por meio de contatos não oficiais. Não bastasse isso, impulsionam sites falsos nos mecanismos de busca, fazendo com que as vítimas caiam em páginas clonadas e acabem perdendo seu dinheiro.”
Como os criminosos utilizam algoritmos de anúncios pagos em redes sociais para enganar o público e quais estratégias eles mais aplicam para criar uma sensação de legitimidade?
“Buscadores e redes sociais ainda carecem de filtros eficazes para identificar sites maliciosos, permitindo que criminosos impulsionem anúncios falsos. Em alguns casos, esses anúncios são montados com o uso de deepfakes extremamente realistas, levando muitas pessoas a acreditar que as promoções são legítimas.”
Considerando a responsabilidade das plataformas de redes sociais, quais falhas nos sistemas de segurança dessas plataformas facilitam a disseminação de golpes e o que mais poderia ser feito para proteger os usuários?
“Não há uma curadoria detalhada dos conteúdos impulsionados, o que tem aberto caminho para que criminosos invistam em tráfego pago e alcancem mais vítimas por meio das redes sociais. Essas plataformas têm se mostrado pouco eficazes em eliminar anúncios fraudulentos. Em São Paulo, algumas redes sociais já foram condenadas por permitirem a veiculação de anúncios enganosos em suas plataformas.”
Quais medidas práticas você recomenda para que os consumidores possam se proteger de fraudes no e-commerce, como durante a Black Friday, e quais métodos de pagamento são mais seguros?
“Desconfie de promoções exageradas, bem como de mensagens e anúncios pagos que chegam por redes sociais ou aplicativos de mensagens. Sempre verifique a credibilidade da loja em buscadores, sites de reclamação de consumidores e nas listas de lojas não recomendadas que os PROCONs elaboram. Confira se a loja possui um endereço físico e tente fazer contato diretamente. Prefira métodos de pagamento seguros, que ofereçam estorno em caso de problemas com a entrega. Se for vítima de golpe, busque orientação jurídica especializada para investigação e responsabilização dos envolvidos. Em casos de fraude via PIX, acione o Mecanismo Especial de Devolução (MED) para tentar recuperar, total ou parcialmente, os valores desviados.”