Negacionismo: beber desse cálice nunca custou tão caro

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Ilustração de Mimmo Paladino

Quando estudamos sobre grandes pensadores que passaram neste mundo há séculos atrás, nos quais deixaram-nos uma preciosa bagagem dos seus mais inúmeros pensamentos, os declaramos na maioria das vezes, embasbacados com tamanha inteligência, como sábios atemporais. E são. Realmente são. Mas me pergunto, curiosamente, como seria a receptividade das ideias de um dos pensadores se aparecesse vivíssimo, hoje, em pleno século XXI. Ainda seriam vistos como poderosos eruditos?

Ser um Olimpiano — título dos deuses da grande mídia atual —, hoje, não necessita de tantos pré-requisitos. Basta dizer aquilo que todos querem ouvir. Não! Não o que precisam ouvir, mas o que querem, mesmo. Esse processo de ‘endeusar’ famosos, alguns de gostos duvidosos, visa, acima de tudo, induzir o público desses líderes de ‘grande influência’, onde ditam modelos de vivências a serem adotados por seus seguidores. Simples assim, não é?

Mas e Sócrates, por exemplo? Se estivesse entre nós, suas ideias seriam tão ovacionadas como são atualmente, ao lermos sobre as mesmas em livros?

Sendo sincera e realista — pessimista para muitos —, vivendo em um cenário onde apontar um dedo é tão fácil quanto qualquer outra coisa, o filósofo ainda estaria fadado à cicuta. Até mesmo as mentes mais fortes entram em colapsos invisíveis.

O coroa com certeza infartaria ao se deparar com sistemas mercadológicos que investem em cima do conhecimento. Sócrates repudiava a ideia de que conhecimento poderia ser comprado, pois não havia sentido em comprar algo que é proveniente do ser humano, aquilo que já nasce com o mesmo. A verdade é que também somos rodeados por sofistas. Pessoas que se comportam como grandes sábios, mas desprovidos de qualquer sabedoria, onde praticam um cansativo jogo de palavras a fim de ganharem uma disputa de argumentos e de negarem a existência de uma verdade, impossibilitando até mesmo o acesso à própria. Seu método dialético se cansaria de gritar com as paredes.

Sócrates morto, um grande poeta! Vivo? ”Militante” chato.

Em 400 a.C, teve a escolha de deixar sua pólis. Mas ficou. Ficou para encarar o julgamento. Ainda por ser condenado a corromper a juventude ateniense e desacatar autoridades, não ousou negar no que acreditava. Em 2021 não seria tão diferente. Eventos se repetem e Sócrates não iria trazer a revolução do autoconhecimento. Aceitar a ignorância? Até parece.

Ele bebeu a cicuta e lambeu até os beiços. E hoje, não sendo diferente, há por aí pessoas condenadas às suas diferentes cicutas, pois suas verdades foram mortas antes mesmo de serem pronunciadas.

Ana Luiza Portella – estudante de jornalismo

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