Nos últimos anos, o número de brasileiros que tem escolhido Portugal como moradia, e não só para turismo, aumentou consideravelmente. Diariamente a imprensa daqui e de lá publica histórias sobre pessoas dos mais diferentes lugares do Brasil, que escolheram o país que colonizou as terras brasileiras, como lugar definitivo de residência.
São profissionais de áreas diversas, alguns possuem formação superior, outros não; alguns têm tido sucesso em suas empreitadas, outros reclamam abertamente de preconceito por parte dos portugueses… Enfim, são muitas as situações e os perfis dos brasileiros que estão fazendo o caminho oposto aos que nossos colonizadores fizeram.
Para se ter uma ideia, segundo dados, em 2016 havia 110 mil brasileiros morando em Portugal; em 2018, havia 111 mil; e, em 2020, este número saltou para 276 mil. Como se vê, em somente quatro anos, houve um crescimento de 151%.
Mas para além das questões econômicas e sociais que orientam tais escolhas, a pergunta que queremos fazer neste texto é: vale a pena morar em Portugal? Esta é uma boa escolha? Pelo lado turístico e histórico, saibam: Portugal é, sim, um belíssimo país.
Os outros pontos positivos são o fato de que faz parte da União Europeia (o que facilita a vida dos estrangeiros); a familiaridade com o idioma (embora haja grandes diferenças) e a ‘impressão’ de que (em alguns lugares) se está rodeado por brasileiros.
Em relação à qualidade de vida, é certo que hoje, no Brasil, temos vivido uma fase de grande carestia e redução do valor de compra dos salários, e isto não acontece em Portugal. No país, ainda é possível alcançar um padrão de vida bom sem precisar ganhar um salário alto. Antes de mais nada, é preciso considerar que estamos ‘falando’ sobre viver e trabalhar em Portugal, ou seja, recebendo pagamentos em euro.
Diante disso, vamos pensar: um casal consegue viver bem com cerca de 1.500€-1.800€ por mês e viver aqui significa (além de pagar as contas), sair para comer fora, manter uma vida social ativa e ter atividades de lazer regulares. Com controle das contas também é possível fazer viagens regulares, seja dentro ou fora do país. Depende também, é claro, da cidade na qual você vive. Em Lisboa os custos são mais altos. O salário mínimo em Portugal é de 750 euros, assim um casal trabalhando e ganhando um salário mínimo cada, consegue viver com certa tranquilidade, mesmo em Lisboa.
É importante ressaltar que com um orçamento bem definido, não há muitas surpresas de aumentos de preços (mensalmente) em razão da baixíssima inflação quando comparada à brasileira. Em 2021, por exemplo, a inflação portuguesa atingiu 1,3% e foi considerada um escândalo.
Também é importante lembrar que Portugal é um país pequeno, com 10,5 milhões de habitantes, sua economia baseia-se na área de serviços e turismo; e sua indústria é muito pequena. Este aspecto limita as possibilidades de emprego.
Contudo, os serviços são de qualidade e acessíveis: saúde, educação, transporte público (etc.) formam uma rede de serviços que, no dia a dia, garante a qualidade de vida.
A educação pública também é de qualidade e prova disso é que a maioria esmagadora dos estudantes do ensino básico e secundário (equivalente ao fundamental e médio brasileiros) estuda nas escolas públicas.
Quer dizer que só há benefícios?
Aparentemente sim, mas nem tudo é tão maravilhoso como aparenta. Construir uma nova vida no país, sem renda provisionada ou garantida, é bem difícil. O brasileiro irá concorrer com portugueses e outros europeus, melhores preparados, para trabalhar. Para ter acesso aos serviços públicos, de forma permanente, também é necessário ter dupla cidadania, portuguesa ou de qualquer outro país da União Europeia, ou visto de trabalho ou estudante, isto é, é preciso estar regularizado no país.
Em resumo: morar em Portugal ainda continua, sim, valendo a pena; quando pensamos nos aspectos positivos do país, que são muitos.
De qualquer forma, esta é uma escolha muito pessoal que deve ser feita considerando-se as várias questões que a envolvem. Mas qualquer que seja a escolha, estar preparado, ter boa formação, bons contatos e, sobretudo, conhecimento do ‘estilo’ de vida dos portugueses, já ajuda muito.