Todo mundo, em algum momento da vida, já se irritou com alguns sons específicos, como: clique de caneta, som de teclado, barulho de mastigação, buzinas de carros, músicas, respiração alta, barulhos
de beijos, som de ingestão de água, ronco, salto alto no assoalho, latido de cachorro, mascar de chicletes, torneira pingando, som repetitivo de alguém balançando as pernas, entre outros. Quem nunca?
Principalmente quando estamos em um momento de estresse ou cansaço excessivo. Mas, para alguns a hipersensibilidade a determinados tipos de barulhos é incontrolável e ocorre a qualquer momento,
independente do humor, gerando muito mais que um simples incômodo. Desencadeando diversas sensações perturbadoras. É o que chamamos de Misofonia, sensibilidade seletiva do som.
Uma síndrome neuro-comportamental que gera a intolerância patológica aos barulhos, de forma crônica e intensa e causando reações emocionais desagradáveis.
As causas ainda não são totalmente esclarecidas. Entretanto, a misofonia pode ocorrer devido a uma hipersensibilidade entre a parte do cérebro que processa os sons e a que os identificam.
E, normalmente, quem sofre com esse caos sonoro é classificado como uma pessoa louca, intolerante, antipática, estressada ou mal-humorada, por não ter o controle absoluto das suas reações
quando exposta a determinados tipos de sons.
Também entendido como um distúrbio neurológico, audiológico ou psiquiátrico, o sofrimento psíquico presente na intolerância ou na aversão aos sons específicos, geram gatilhos e uma reatividade
emocional negativa, como: irritação, raiva e ansiedade. Diante destes sintomas, o misofônico (pessoa que sofre com o problema) fica tão irritado que chega a se isolar, ter problemas profissionais e
até agredir os outros por tamanha cólera. Por estar sempre em busca da diminuição de seu desconforto auditivo.
Os sintomas costumam aparecer na infância e podem se agravar na vida adulta. Desta forma, se faz necessário um diagnóstico precoce com uma equipe multidisciplinar composta por um otorrinolaringologista, um psicólogo, um neurologista ou um psiquiatra, para que possam
controlar essa exposição e acompanhar a melhora da doença em todos os seus aspectos clínicos.
Afinal, sem o tratamento adequado, a piora é gradativa e a pessoa fica propensa a acumular sons irritantes. Apesar da misofonia não ter cura, existe tratamento conservador para amenizar os sintomas. Um
deles é a terapia cognitiva condicional que auxilia no controle e na aceitação desta condição, sem que afete os relacionamentos e a relação do indivíduo com o ambiente.
Portanto, só quem convive com a misofonia sabe o quão difícil é essa convivência. Como é complicado ser julgado ou incompreendido pelo outro e carregar uma culpa por ser o único a não tolerar algo que para os outros é tão comum e, muitas vezes, até perceptível.
Diante destes fatos, o único refúgio que o misofônico encontra é se isolar, se afastar das pessoas por não se sentir acolhido, exatamente para não incomodar com suas reclamações constantes. Já
que, para a maioria, tudo não passa de chatice, rabugice, frescura ou mi-mi-mi-mi.
E assim, concluímos que, mais uma vez, a falta de conhecimento pode vir a gerar incompreensão e julgamentos desnecessários. Fato é que, esse distúrbio não é loucura. É uma condição especial de saúde
mais comum do que se imagina.
E se você sente algo parecido ou conhece alguém que sofre com esses sintomas recorrentes e intensos, fique atento. É hora de procurar ajuda.
Psicanalista (SPM); Doutora em Psicanálise, membro da Academia Fluminense de Letras –cadeira de número 15 de Ciências Sociais; administradora hospitalar e gestão em saúde (AIEC/Estácio); pós-graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social (Facei); professora na graduação em Psicanálise; embaixadora e diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In Niterói; membro do Conselho de Comissão de Ética e Acompanhamento Profissional do Instituto Miesperanza; professora associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo; professora associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites; graduada em Letras – Português e Inglês pela PUC de Belo Horizonte.