Por que o Brasil chora a morte de Marília Mendonça? Porque morreu tragicamente num desastre aéreo, jovem aos 26 anos – ou muito mais do que isso -, numa mistura que foi além do ser humano, num exato momento como regido – e constatado – pela coincidência de alguns dos propósitos divinos do Universo?
A velocidade do sucesso da carreira musical de Marília mostra a força da dinâmica com que a “Rainha da Sofrência” invadiu poderosamente o restrito e seleto mundo masculino do Sertanejo. Pronto. Estava estabelecido o Feminejo.
A tônica das canções, cujas letras narram a superação de relacionamentos abusivos, a busca pela elevação da autoestima feminina e o apoio entre mulheres para enfrentar situações de “Masculinejo” no campo profissional musical e na vida cotidiana comum ganharam um movimento representativo encabeçado por Marília Mendonça.
As migas de labuta de palco, como as “Patroas” Maiara & Maraísa, a dupla Simone & Simaria, além de outras mais, forjaram o sucesso de lives, clicks, shows lotados e recordes jamais vistos, no Brasil, no mundo real e no universo virtual sem fronteiras.
O que se viu foi a promoção do empoderamento feminino nas letras contundentes de gente comum que se viu representada por ter vivenciado algo semelhante às narrativas de sucessos como “Supera”, “Infiel”, “Ausência” e “A Culpa É Dele”, só pra citar alguns. São músicas que habitam um Brasil que não conhece a si mesmo de verdade, preconceituoso e de nariz em pé, como se diz por aí.
O próprio gênero Sertanejo esteve muito diminuído e menosprezado por muito tempo, só tendo espaço no interior. Depois, conquistou pequenas brechas em algumas capitais, remasterizado num movimento dentro de outro movimento, que trouxe o ar de universitário às musiquinhas consideradas caipiras e regionais.
A cara musical do Brasil muda definitivamente para além dos programas de rádio e tv, como os encabeçados por Inezita Barroso – com Viola, Minha Viola -, e Rolando Boldrin, com Som Brasil, Sr. Brasil e Empório Brasil, entre outros divulgadores da rica cultura brasileira.
Mas o Brasil mudou o seu gosto musical? Não, certamente. Só mostrou o que não era conhecido, cutucando na ferida do outrora intocável e supremo som badalado pela mídia das grandes capitais do país, via jabá ou não.
Pra quem não sabe, jabá era o pagamento feito pelas gravadoras para que seus artistas fossem tocados no rádio ou aparecessem na televisão com determinada música e, impulsionados pela mídia, virassem sucesso de audiência e de vendas, o que significava mais faturamento. Era assim. Agora, já não tem o mesmo poder.
Em tempos cibernéticos, o sucesso do vídeo oficial do DVD “Infiel”, de Marília Mendonça, ultrapassou facilmente meio bilhão de visualizações (547.976.817, até o dia do enterro da cantora). Ou seja, clicks no YouTube parecem que vem na velocidade da luz, tanto para chegar onde quer que seja, quanto para gerar cifrões de muitos dígitos.
Marília Mendonça muda para o plano espiritual. Não fará mais shows ao vivo nos palcos brasileiros, mas estará mais viva do que nunca dentro de cada mulher que se sentiu representada pela sagacidade e expressão dos dizeres da música que compôs.
Não será demais dizer que o maior sucesso musical do país dos últimos tempos nasceu Marília Mendonça e se vai com mais um M no nome artístico. A chancela está dada pela identificação de cada uma das migas de sofrência que fizeram da Mulher Marília Mendonça a sua porta voz.
E o que tem a Covid e Ayrton Senna com essa morte?
Bem, a Covid pelo expressivo número. São 610 mil vítimas fatais e quase 22 milhões de casos confirmados, segundo as estatísticas mais recentes. Chocante.
E Ayrton Senna? Bom, porque teve uma morte brutal e também abalou o Brasil e o mundo, ao se chocar contra um muro de contenção com o seu fórmula 1 no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, em 1º de maio de 1.994.
A tristeza é marca nos três episódios.
O senão é que há inbróglios que não estão bem esclarecidos nas três circunstâncias.
Mas isso será assunto para novos posts. É só acompanhar aqui para saber tudo direitinho. Combinado?
Até breve.