Julgamentos e críticas: como me livrar?

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“De repente tudo vai ficando tão simples que assusta. Vamos perdendo algumas necessidades, antes fundamentais, e que hoje chegam a ser insignificantes. Vamos reduzindo a bagagem e deixando na mala apenas as cenas e pessoas que valem a pena. As opiniões dos outros são unicamente dos outros e, mesmo que sejam sobre nós, não têm a mínima importância. De repente vamos abrindo mão das certezas, pois com o tempo já não temos mais certeza de nada… e isso não faz a menor falta. De repente entendemos que tudo o que importa é ter paz e sossego. É viver sem medo, e simplesmente fazer algo que alegra o coração naquele momento. É ter fé. E só.”

Elaine Matos

Baseado nesse trecho do texto “De repente” de Eliane matos, publicado em dezembro de 2013, em cbanoticias, e principalmente na frase em negrito, surgiu essa reflexão para o dia de hoje.

Você já parou para pensar no quanto você sofre por se importar com o julgamento do outro?

Sabemos que as questões internas, que movem nosso modo de viver são um fator de alegria, às vezes, mas também de muito sofrimento. Não é preciso que nos apontem para nos acharmos errados ou acharmos que estão nos achando errados. Sou testemunha de que com o tempo, um bom tempo, e com terapia, podemos aceitar o que somos ou dar conta de ir sendo, descobrindo ser, pois tem gente que diz que não liga para a opinião alheia, mas por dentro se borra de medo. Há muitos “falsos profetas” que ensinam fórmulas mágicas para aprendermos a lidar com isso, mas com o tempo vão sendo descobertos, porque de perfeitos não têm nada. Mas antes disso acontecer, as pessoas que olham de fora acham que eles têm uma vida perfeita, não erram, que são seres iluminados, e muito mais que habita o imaginário. Alguns, mais sérios, e poderia citar muitos aqui, dizem para não os seguirmos e simplesmente só seguir os seus ensinamentos, para que possamos aprender a refletir com eles e ir crescendo, nada mais.

O ser humano costuma se importar tanto com a opinião do outro que vão surgindo as cirurgias plásticas, as lipoesculturas, como fórmulas adequadas de alcançar a beleza perfeita. É um tal de conserta nariz, preenche lábios, pinta cabelo, põe silicone, e por aí vai. Tudo para que a pessoa pareça linda e se sinta menos insegura, para só assim se sentir aceita. Isso também ocorre com homens, mas de forma diferente, às vezes, querendo o carro mais caro, desfilar com a mulher mais bonita, ou algo assim. E até parece que isso tudo resolve o problema. Se resolvesse não teríamos pessoas por aí como o “Ken humano”, concorda? Certa vez ele disse numa entrevista que estava em tratamento psicoterapêutico, mas era muito difícil parar com as cirurgias. Enfim, quando o olhar fica voltado para o externo como forma de preencher o interno sérios problemas são gerados.

Você também acha que o outro é o culpado de nos sentirmos mal?

Mas na verdade, o psiquismo humano é algo complexo e intrincado, e não tem receita de bolo para ser feliz ou se sentir menos triste, manual de instrução para acertar em tudo e fazer da sua vida o manjar dos deuses. E o que ocorre conosco é pensarmos vir de fora, do olhar alheio, o que vem de dentro na maior parte das vezes. Nós costumamos ser nossos próprios algozes e críticos. E isso só se resolve com conhecimento de como funciona a mente humana em sua totalidade, o que ninguém ainda decifrou. Por isso, um bom psicólogo, psicanalista ou algumas seitas ou religiões ou filosofias que trabalham nosso autoconhecimento, como o budismo e outras, podem dar uma força.

O processo é diário e constante, é lidar com o dia a dia, e ir se observando muito. Estar em presença de si mesmo 24 h, sem descanso. “Estar presente”, como nos falam muitos, entre eles Eckhart Tollle (Ulrich Leonard Tolle). Algumas pessoas negam tanto o que sentem, se escondem tanto dos problemas que no fim das contas acabam com uma depressão, ou ansiedade generalizada ou coisas mais graves. Precisamos nos olhar mais amorosamente, mas isso não acontece de uma hora para a outra, como dizem por aí, “repita comigo: eu me amo”, não, é necessário gente preparada para ajudar. Quer dizer que essas pessoas (psicólogos, terapeutas) são perfeitas e não têm problemas? Não, quer dizer que estudam, fazem terapia sempre, ou deveriam, e daí podem estender sua ajuda a outras pessoas.

Falando nisso, e o que há lá na Bíblia, por exemplo?

Orai e vigiai. Não é mesmo o que está lá em várias partes? Penso que o orar poderia ser traduzido como ato de fé e esperança e vigiar se relacione aos pensamentos, às atitudes e às palavras. Estar presente 24 horas percebendo como age, o que pensa e se há coerência nisso. Penso, aprendi e de certo modo acredito, que seja necessário coerência entre pensamento, palavra e ação.

Então leia aí esse recado:

“Tudo o que você fala é um reflexo dos pensamentos internos. Tudo o que você faz é um reflexo da ação interior. Assim, agir de acordo com seu impulso interior é Dharma (Retidão em sânscrito). Falar o que você sente dentro de si é Sathya (Verdade). Refletir sobre o que você experimenta em seu coração é Shanti (Paz). Compreender adequadamente as sugestões do coração é Ahimsa (Não-violência). Considerar tudo que emana do coração é Prema (Amor). Os cinco valores são, portanto, reflexos dos sentimentos que emanam do coração. Ser verdadeiramente humano significa ter completa harmonia entre pensamento, palavra e ação. Se houver divergência entre pensamento, palavra e ação, qual é o resultado? Ação infrutífera. Alguns dizem que o conhecimento é valioso, mas o caráter é mais importante que o conhecimento. Pode-se ser erudito, pode-se ocupar cargos elevados de autoridade, pode-se ser muito rico ou ser um eminente cientista, mas se alguém não tem caráter, todas as outras aquisições são absolutamente inúteis. Sacrifício, amor, compaixão e paciência são as qualidades humanas genuínas que devem ser fomentadas, descartando ciúme, ódio, ego* e raiva, que são qualidades animais.” 

Sathya Sai Baba

* ego aqui não é usado com na psicanálise, mas na visão do busimo, por exemplo.

Os grandes mestres nos ensinam sempre.

MAS É FÁCIL? Não, não é.

Não é tão fácil nos livrarmos de experiências que carregamos por tanto tempo, vivenciadas em primeiro lugar no lar, com nossos pais, e depois na escola, no grupo de amigos, na sociedade. Às vezes herdadas até antes de nosso nascimento. Mas podemos nos acolher com mais afeto sem julgar tanto o que somos ou estamos sendo. Entendendo que todos estamos em processo, e os processos são feitos de tentativas e falhas e acertos.

É simples, porém complexo. Um paradoxo, como é viver.

Então, vamos abrir nossa mente e pensar no que há de diferente para dar menos importância à opinião dos outros? Bora conhecer e encontrar outras formas de ver o mundo?

Beeeiju no coração e na alma.


Janice Mansur é escritora, poeta premiada, professora, revisora de tradução e criadora de conteúdo.

Visite a autora também no site do Jornal Notícias em Português (Londres) e na Academia Niteroiense de Letras.
Canal do Youtube: BETTER & Happier
Instagram: @janice_mansur

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