Godzilla vs Kong – O entretenimento perfeito!

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Se alguém for ter falar sobre um filme do “Monsterverse”, também precisa comentar sobre a situação atual da Warner Bros., que é o estúdio tão frequentemente comentado em volta de discussões que vão desde críticas insanas à decisões criativas sobre certos filmes de propriedades populares e universos cinematográficos que não devem ser nomeados aqui por uma questão de coesão. Porque, felizmente, nem sempre é um caso de erros e resultados desastrosos, como bem mostra este filme aqui em questão e o universo ao seu redor. Quanto à tentativa de usar o icônico nome do monstro Godzilla para, não apenas tentar construir seu próprio universo cinematográfico resgatando e usando, não apenas o Godzilla, mas todos os clássicos monstros da Toho colidindo nesses novos filmes de crossover.

Embora que nada em comparação com o tamanho e o escopo da conectividade complexa como os filmes da Marvel possuem, os quatro filmes produzidos até então nesse “Monsterverse” se encaixaram e se misturaram tão bem, apenas com a mais básica das premissas: monstros gigantes destruindo tudo, e como o mesmo ato de ação épica vem a ser usado para refletir o pior e o melhor do passado e do presente da humanidade, e os mesmos monstros tendo sua própria mitologia criada em torno da criação do planeta Terra e seus efeitos que definem nossa história.

Mesmo que nada tão profundamente complexo seja porque os filmes nunca tentaram fazê-lo, ou lhes faltaram a capacidade de conseguir convencer isso quando os primeiros filmes ainda tentavam serem levados à sérios, tanto quanto possível tentando refletir e homenagear o clássico original icônico Godzilla de Ishiro Honda que refletiu brilhantemente, através de um filme de monstros e catástrofe, uma sociedade japonesa pós-guerra ainda suportando as cicatrizes de um passado sombrio.

Foto: Reprodução

Enquanto que no MonsterVerse, partimos do Godzilla de Gareth Edwards e sua tentativa excessivamente séria de colocar a aparição do Godzilla como um evento do mundo real, mas gastando mais tempo focando em personagens humanos vazios e desinteressantes; o extremamente subestimado Kong: Ilha da Caveira que conseguiu equilibrar o espetáculo de ação dos monstros como colocando um grupo de personagens humanos carismáticos o suficiente e ainda fazia um comentário interessante sobre o fanatismo da guerra dentro da natureza do homem, com o grande e adorável macacão no meio de tudo se apresentando como uma entidade, trazendo equilíbrio ao violento caos despertado pelos humanos.

E então veio Godzilla II: Rei dos Monstros que foi a árdua tentativa de fazer um filme classicão do Godzilla onde ele lutava com outros monstros de formas incrivelmente bobas e divertidas, e tendo em si todos os elementos perfeitos para recriar isso, sustentado por uma escala grandemente realizada de espetáculo de grande sucesso, mas atolado por personagens humanos horríveis inconvenientes que inexplicavelmente recebiam mais atenção do que os próprios monstros, que são o foco principal do enredo em questão.

Mas daí que veio Adam Wingard, o oras odiado ou aclamado cineasta independente, que provavelmente por assistir e aprender com todos os acertos e erros dos filmes anteriores, recebeu aqui as funções de direção, talvez não por ser notado pelo seu talento, já que ele sempre estivera em um nível subversivamente experimental com seus filmes até agora, mas sim por ser apenas mais um cara quem vem do cinema independente como Jordan Vogt-Roberts e Gareth Edwards, que poderia trazer novas idéias e direção para o espetáculo dos monstros e, claro, obedecer aos produtores. Embora não seja isso o que acontece aqui, pois ele parece completamente ciente do tipo de filme que está fazendo e sabe exatamente o que o público quer do mesmo, e o realiza aqui, completamente livre, o confronto de monstros perfeito que alguém poderia sonhar em pedir para assistir e se divertir assistindo a cada minuto!

Se o filme anterior falhou por ainda tentar ser dramático e excessivamente sério ao tentar misturar a galhofa dos clássicos do Godzilla, aqui em Godzilla vs. Kong é a A galhofa devidamente controlada que comanda seus objetivos para atingir sua premissa principal bastante simples: macaco gigante resolvendo as suas diferenças existências com a lagartixa nuclear na porrada! Com os créditos iniciais quase dando o ar e aparência de um painel de luta de UFC prestes a começar, e estabelecendo a preparação básica do enredo, e indo direto ao ponto, mal perdendo tempo estabelecendo personagens ou elementos de enredo de forma exasperada. Mas, surpreendentemente, consegue encontrar uma idéia narrativa bem interessante por trás de tudo para deixá-lo engajado e nunca entediado enquanto assiste.

Se assegurando com uma ótima estrutura de ritmo, que deixa tudo gostoso de assistir, nunca perdendo tempo focando em personagens humanos desinteressantes e vazios, ou tentando forçar algum tipo de drama emocional como os filmes anteriores do Godzilla tentaram e falharam. Não demorando para termos a presença dos monstros na tela, que é literalmente da primeira cena até a última, e nem atrasando o espetáculo em nos deixar ver as feras compartilhando a mesma tela.

Foto: Reprodução

Alguns podem argumentar que é mais um filme de Kong, já que ele é aquele em que o fio da trama “principal” mais depende e tem a maior quantidade de tempo na tela, enquanto que Godzilla aparece de vez em quando como uma força viva da natureza destruindo alguns bairros e construções públicas, mas ele basicamente tem a mesma quantidade de tempo em tela aqui que ele teve em seus dois filmes anteriores, e fazendo a mesma coisa que ele sempre faz, aparece, destrói uns prédios, e volta para a água. Enquanto que a trama que sempre gira em torno dos humanos debatendo sobre Godzilla e seus efeitos no nosso mundo – desta vez, eles só saem por aí discutindo o que diabos está fazendo ele atacar cidades humanas tão aleatoriamente já que ele apenas surgia para lutar contra outros titãs.

Mas quando ele aparece aqui, é realmente algo pra se esperar com ansiedade, com o lagartão brilhando como uma presença tanto ameaçadora quanto imensamente divertida. Esse é um filme onde você vai ver Godzilla fazendo expressões faciais de raiva, acenando com a cabeça em respeito ao oponente e rindo sádicamente, e se você não amar isso, você não tem coração!

Enquanto o enredo atraente principal segue a equipe na cauda de Kong o seguindo até a entrada para o mundo da terra oca no centro do planeta: o local de nascimento dos titãs neste universo. Então, basicamente temos uma mistura de outro filme típico de Godzilla, entrelaçado com “Viagem ao Centro da Terra”, com King Kong como o protagonista. O que dá esse incrível e criativo senso de mitologia que dá um gás de vida atraente e cheio de potencial a esse universo de monstros, e que pode facilmente continuar infindamente, dado o nível absurdo e ridículo que chega aqui, e tão imensamente inventivo!

E com isso, ele também consegue a proeza de capturar um tom muito semelhante aos clássicos filmes de monstros da Toho, com a diversão despretensiosa, direto ao ponto, e onde os personagens humanos eram meros enfeites de cena para mover a trama adiante e nada à mais que isso. Mas para um filme dá mais atenção ao papel dos monstros e sua presença na tela sendo o objetivo principal do que os personagens humanos, ironicamente temos personagens bem mais interessantes do que os vistos anteriormente nos filmes Monsterverse até agora. No fronte do Kong, temos uma atriz incrível como Rebecca Hall sendo colocada para interpretar a típica cientista humanitária com personalidade ansiosa, mas pelo menos ela soa genuína em sua atuação.

Foto: Reprodução

Mas a escalação mais irônica aqui é Alexander Skarsgård, o ápice da beldade e beleza masculina, sendo colocado para interpretar um nerd acovardado, mas de bom coração bem intencionado e não se torna outra mera piada do cara branco idiota. E estabelecer a relação da garotinha surda com Kong como uma forma de “humanizar”, ou suavizá-lo aos olhos do público, funciona bem no seu propósito de ser o principal motivo pelo qual quando as cenas lutas contra Godzilla tomam a tela, você definitivamente se pega torcendo por Kong, ficando apreensivo com dó pelo macacão quando ele se machuca ou rosna de dor, como pula da cadeira excitado quando ele mesmo decaído, ainda mostra ter energia suficiente para se preparar para mais uma rodada contra seu oponente.

Enquanto que no fronte do Godzilla, a personagem de Millie Bobby Brown definitivamente tem mais a fazer aqui do que no filme anterior, mas nada remotamente o suficiente para tornar sua presença obrigatória, especialmente o personagem de Julian Dennison que tá ali como peso extra ao grupo como também material de alivio cômico extra, algo que Brian Tyree Henry já tinha isso muito mais que bem garantido, roubando todas as cenas em que aparece como esse podcaster de teoria da conspiração se tornando parte de um dos heróis!

Mas estes são basicamente os únicos humanos que o filme remotamente se preocupa em dar algum nível de importância, especialmente no caso dos monstros, já que não há nenhuma preocupação com as vítimas civis durante as grandes cenas de destruição cataclísmica. De vez em quando a câmera vai e capta a perspectiva terrestre das batalhas, mas apenas nos deixa sabendo do óbvio, todo mundo está correndo, gritando ou sendo torrados entre as cinzas dos prédios desabando.

Agora se isso fosse um filme da DC, seria criticado por causa disso, mas como não é, os críticos parecem ter encontrado novos argumentos criativos para diminuir e falar mal de um filme baseado exclusivamente em monstros gigantes lutando entre si. Chamando-o de desinteressante, mal concebido, vazio e estúpido. E adivinha só?! O filme está COMPLETAMENTE ciente disso! Que está tão repleto de elementos e situações que te fazem rir do quão nível de estúpido que o filme alcança, seja com o fato de que o centro da terra aparentemente tem um sol próprio e acesso wi-fi exclusivo; um macaco gigante sabe linguagem de sinais (sim, o Kong fala, não é maravilhoso?!); um homem adulto e duas crianças conseguem invadir uma instalação militar por meio de um túnel de transporte terrestre e desativar um lagarto robô gigante; já deu pra sacar né?!

Foto: Reprodução

É idiota e SABE que é idiota e, ironicamente, essa é a razão que o torna um filme inteligente! E mesmo com essa personalidade autoconsciente, bem disfarçada dentro de um tom que ainda remotamente se alinha com o dos filmes anteriores, formando esses épicos malucos e jornadas de ficção científica recheado – só que de maneira tão melhor e mais envolvente e divertido de se assistir; Wingard ainda consegue encontrar espaço para realizar sua própria forma de encaixar um comentário sutil por meio do filme.

Não é nada remotamente parecido com o que Ishiro Honda costumava fazer de forma tão peculiar nos seus filmes originais do Monstro de Toho, especialmente no original King Kong vs Godzilla (1962) que, através de seu espetáculo bobo, cafona, e estupidamente divertido, Honda estava realizando uma desmistificação dos grandes espetáculos criados pela mídia ocidental para desviar a atenção das tragédias sociais do seu período (Kong – o ícone americano do puro entretenimento de sucesso, sendo trazido ao Japão para resolver o problema de Godzilla – o reflexo do trauma da guerra ainda vivo – brilhante!), mas tem suas próprias idéias afiadas aqui!

Tira sarro de elementos genéricos de blockbuster, como diálogos excessivamente expositivos sendo instantaneamente descartados como um total inconveniente, e especialmente, subverte a estrutura conceitual desses filmes de confronto, como Batman V Superman, Freddy vs Jason, etc; por não perder tempo tentando inventar uma trama dramática arrastada demais sobre o “por que” eles estarem lutando, as consequências disso e simplesmente os solta um contra o outro, e isso já basta! Mesmo que o menos e conciso ‘porquê’ estar aqui, mas é tratado como um verdadeiro suporte secundário para o verdadeiro espetáculo que é o confronto do título principal.

Isso pode ser visto também principalmente no motivo de eles lutarem. Se inicialmente é subtendido que Godzilla está sendo controlado mentalmente, algo que é logo descartado e no final das contas tudo se estabelece em uma luta guiada pela própria natureza individual de cada um, com o objetivo final do mesmo ser para ver quem restará em pé no final, simples assim!

Foto: Reprodução

E mais uma vez aprendendo com as falhas do filme anterior, se no primeiro Godzilla tudo o que tínhamos eram cenas de ação completamente filmadas de modo sombrip onde você tinha que franzir os olhos para tentar ver algo, e em Rei dos Monstros tentava capturar a briga de monstros em escala gigantesca através das perspectivas dos humanos, e perdendo completamente nessa tentativa furada, Enquanto que aqui, Wingard apenas liga o modo “F-se”, e mete a câmera no meio da luta entre os dois monstros. Flutua com ela entre a luta, segue os movimentos de maneira vibrante como se fosse uma montanha russa (as vezes quase literalmente) explorando um combate de WrestleMania que domina todos os 40 minutos finais de filme com ação quase imparável.

Enquadra as lutas capturando dos pés à cabeça da escala dos bicho sem esconder nada, enche a luta final entre os dois em Hong Kong com iluminação Neon transpirando de todos os lados. O mundo da terra oca parece um completo sonho dopado tirado de um livro infantil de fantasia fundido com uma antiga série de anime, e é fascinante de se olhar! Enquanto que a luta das duas estrelas principais parece uma mistura do Neon tirado dos filmes mais recentes de Nicholas Widing Refn misturado com os movimentos de câmera malucos de James Wan, junto com o toque de finesse de Wingard para pura sensação de brutalidade.

Quando esses dois se enfrentam, você sente cada golpe e dano que eles recebem, pois é sadicamente doloroso e glorioso de assistir, se arremessando um ao outro em prédios, o Kong tendo seu próprio martelo do Thor, é como se fosse uma luta de bar depois da meia noite, transformada nesse espetáculo blockbuster com monstros gigantes! Com os últimos 20 minutos que farão os poucos fãs de Circulo de Fogo chorarem de alegria! E parabenizo demais pela ousada decisão de decidir um vencedor final para a luta, que foi completamente na direção oposta do que a maioria dos torcedores do filme esperavam do mesmo, com o grande cinturão indo para a lagartixa gigante!

Mas eu gostaria de defender como a vitória moral aqui foi para Kong! Ele pode ter perdido na porrada contra Godzilla, mas só caiu depois de esbofetear brutalmente o Lagartão e deixá-lo comer alguns destroços de prédios, e foi o macaco que no final vem a derrotar o maldito Mechagodzilla que estava prestes a matar Godzilla sozinho! Sem falar que o Kong no final ainda arrumou um lar próprio como o rei soberano do centro da terra, enquanto que o Zilla ainda vive na solidão. E para um filme que não aparenta dar muita atenção ou interesse por detrás dos elementos da trama do filme, ainda podem ser vistos alguns conceitos visivelmente inteligentes presentes aqui, por exemplo, como a luta final do Mechagodzilla é encenada!

Quando ela começa, Godzilla mal consegue se aguentar em pé, e só quando Kong intervém na luta que não só salva o lagartão, como finaliza o robô demoníaco de forma épica. Mas em níveis mais profundos, apenas reparem: Godzilla é a entidade que traz equilíbrio ao mundo, enfrenta as mazelas criadas pela natureza – os titãs que desestabilizam a ordem de como as coisas são, se mostrando o rei no meio dos mesmos, por isso que ele nunca ataca humanos, eles fazem parte da ordem natural das coisas, embora ele esteja nem aí se pisa em cima de um ou outro enquanto ele se move, é um animal movido a instinto como qualquer outro: o predador alfa.

Foto: Reprodução

Ele só começa a atacar as cidades humanas aqui porque é atraído usando o sonar de um titã falecido (o Ghidorah do último filme) para aquelas regiões, e quando é o momento certo, eis que liberam o Mechagodzilla, uma arma feita pelos homens para ser um páreo contra Godzilla, e ele como sendo parte da natureza, cai e é dominado pela superioridade armamentista humana. Já Kong, é a força da natureza viva, que contra ataca os humanos e sua interferência desde o seu filme solo e aqui não é diferente! Ele pode ser cercado por humanos, mas jamais é domado por eles, embora ele seja um coração mole com mulheres e garotinhas. Sendo assim, é claro que ele é o único capaz de enfrentar a arma humana e sair vitorioso no final!

E assim como o Hulk disse naquela citação horrível, mas bastante adequada em Vingadores: Ultimato: “Eu puz o cérebro e os músculos juntos… O melhor dos dois mundos.” que perfeitamente serve para resumir o que Godzilla vs Kong tem embalado para entregar em glorioso entretenimento pipocão que te faz sentir falta de poder ir ao cinema e poder assistir algo assim no telão e vibrar junto da galera. Algo que vai direto ao ponto, é de fácil digestão e ótimo passatempo, mas nunca deixando para trás sua própria criação e idéias, ao mesmo tempo que converge tudo para entregar exatamente o que promete fora de sua premissa, e vale cada minuto de duração!

Esse filme deve ser mandatoriamente mandado para o catálogo de transmissão da Sessão da Tarde, não só ia trazer audiência de volta como pertence à aqueles filmes que você assiste relaxado sabendo que vai tirar apenas um sorriso no rosto e risos histéricos de nostalgia todas vezes que for assistir!

Raphael Klopper – estudante de jornalismo

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