Globalização em vertigem: em memória do que deveria ser

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Foto: Divulgação

Sugestão do dia para aqueles que gostam de parar um pouquinho no tempo e refletirem: O documentário ‘Encontro com Milton Santos: O Mundo Global Visto do Lado de Cá’, do cineasta Silvio Tendler. O debate é simples, mas longe de ser resolvido, no qual aponta sobre os problemas em torno da globalização por uma visão um tanto quanto diferente e pouco usada: sob os olhos das periferias. As rédeas do documentário estão nas mãos de Milton Santos, geógrafo baiano considerado como um dos maiores símbolos intelectuais do século XX.

Logo nos primeiros minutos, nos deparamos com o ‘’estopim do estopim’’ da globalização; que seria as grandes navegações marítimas se expandindo mundo afora, tendo como consequência, logo em seguida, séculos e séculos a frente, os adventos tecnológicos conectando os indivíduos em cada canto da Terra. Um tamanho efeito dominó e que acontece até os dias atuais, se observarmos profundamente. 

Milton incita, de diversas maneiras, o quão contraditório o termo ‘globalização’ soa, já que carrega em seu significado uma missão de beneficiar todos aqueles presentes na sociedade, sem exceção. O que, obviamente, provou o contrário, já que tem se mostrado como um verdadeiro obstáculo para os exatos grupos que poderiam vir a se acolher nessa suposta salvação. 

No decorrer do documentário, é nos apresentado três importantes faces dessa globalização, sendo a primeira como algo completamente fabuloso, ou seja, como querem que vejamos o fenômeno. Um exemplo? Há quem acredite, sim, que todos os caminhos dos indivíduos foram traçados igualmente e que a democratização da informação chega a todos. 

A segunda face seria a verdadeira, sem nenhuma máscara. A globalização tal como ela é. Grupos marginalizados à deriva da esperança, com sede daquilo que mais tinham direito mas que lhes foi arrancado antes mesmo de estarem aos seus alcances: o direito à vida plena. Quer dizer, onde se encontra a informação a todos que tanto foi prometida? A educação, a saúde, o lazer; pilares de uma essência que estão beirando à ausência. 

Na terceira e última é o que chamaria de utopia, mas deixemos de lado brevemente quaisquer pensamentos pessimistas. Seria, então, o que deveria ser. Uma sociedade homogênea usufruindo igualmente do mesmo rico pomar. O verdadeiro Jardim do Éden, mas que no fim, o protagonismo acabou-se indo para a serpente. Após a mordida na maça? Bem, dê poder para o ser humano e veja do que ele é capaz de fazer, dizem por aí. 

É citado também os variados embates das privatizações aos custos das necessidades humanas; como da Guerra da Água da Bolívia, revolta popular que aconteceu nos primeiros meses de 2000 em Cochabamba e o 3º Fórum Mundial da Água em Kioto, Japão, em 2003. O questionamento que paira o conceito da globalização cabe exatamente em como ser capaz de ir contra a correnteza de seu mais simples papel, o mínimo precioso para muitos; como agora citado, o direito humano de acesso à água potável.

Diante disso, consequentemente temos uma crise humanitária estarrecedora. Frente à uma sociedade capitalista, nos vemos inseridos diretamente nesse colapso financeiro com o  agravamento constante da fome e desemprego, onde ambos se encontram em uma  naturalidade questionável. Quer dizer, a pobreza e todas as dificuldades que a rodeiam são cruelmente romantizadas atualmente, onde até o tópico da meritocracia é colocado em pauta. Seria justo comparar a jornada de um indivíduo que atravessou o oceano de barco com o outro que foi à nado? 

A mão de obra escrava também é um fruto da ideia desenfreada do lucro do capitalismo global, onde vemos grandes marcas de roupa, por exemplo, faturando altamente em cima do trabalho barato das roupas de ‘’alta costura’’. Assim como a má distribuição de alimento para a população geradas no ventre da desigualdade que, de acordo com Milton, há a possibilidade de alimentar todos os indivíduos pelo mundo, mas que as barreiras impostas meticulosamente dificultam o caminhar do processo. 

É importante frisar que o geógrafo Milton Santos nunca foi contra o processo da globalização, e sim,  não a favor do modelo predominante do fenômeno, visto que agrega altíssimos pontos negativos para grupos carentes, nos quais são os mais afetados desse plano — propositalmente — excludente.  


Ana Luiza Portella – estudante de jornalismo

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