Exposição no Sesc Copacabana traz obras de mulheres que evocam o acolhimento por meio da arte

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A exposição “Porque é teu o meu cuidado”, que apresenta ao público obras de 11 artistas mulheres – nove brasileiras, uma colombiana e uma guatemalteca, está em cartaz na Galeria Sesc Copacabana até 17/07. A mostra, que tem curadoria de Marisa Flórido Cesar, surge com a proposta de uma ética do acolhimento por meio da arte, tendo em vista o contexto de sentimentos como luto e melancolia causado pelos anos de pandemia de Covid-19. A entrada é gratuita.

A seleção conta com 50 obras, entre pinturas, fotografias, performances, objetos, instalações e videoartes que coreografam gestos de cuidado, escutas e atravessamento de mundos, de acolhimento ao outro e de dores coletivas.

“Cuidar é mais que um ato ou um momento de zelo e preocupação com o outro, é uma ética geradora de uma infinidade de experiências, sensibilidades e saberes, que implica vínculos e responsabilidades que embasam as relações e os laços com os outros e o mundo em geral”, explica a curadora. A mostra, realizada pelo Sesc RJ por meio do Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2021/22, tem produção da Museo Museologia e Museografia.

Conheça as artistas e as obras que compõem a exposição

Beanka Mariz vive e trabalha no Rio de Janeiro, onde nasceu. Estudou com Charles Watson, Beatriz Milhazes e Gianguido Bonfanti, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, e filosofia com Roberto Machado na UFRJ. O ato estético, a autonomia do objeto, a fratura como solução de continuidade, o impulso à catástrofe, são aspectos fundamentais para o desenvolvimento do seu processo artístico. Na série apresentada na mostra, homem, lobo e cordeiro não são apartados em polos maniqueístas, opostos ou hierarquizados, como sagrado e profano, natureza e cultura, selvagem e civilizado. 

Cláudia Lyrio é natural do Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. É professora substituta no curso de Pintura da Escola de Belas Artes da UFRJ. Graduada em Pintura e Letras (UFRJ), é Mestre em Literatura (UFRJ) e especializada em História da Arte e Arquitetura no Brasil (PUC-Rio). A ideia do ciclo da vida, seja de matéria humana, animal, vegetal, mineral, escrita, inclusive da vida da própria obra, caracteriza seu processo artístico. Na série “Simbiose”, composta por 10 quadros pintados em aquarela, a artista traz à tona, pelo processo de mútua dependência entre as formas de vida, que somos seres híbridos, multiespécies em coexistência.

Denise Calasans vive e trabalha no Rio de Janeiro, graduada em Design, Comunicação Visual e Artes Visuais pela Puc-Rio. Mestre em Memória Social pela Unirio. Em seu trabalho artístico aborda questões sobre afeto, memória, patrimônio cultural e a forma como se constroem as relações nas redes sociais. A artista apresenta Derrame – instalação work in progress pertencente à série “De Cor”. O espectador participa pingando sua dose de melancolia, o que provoca o derrame do líquido em tensão superficial. Os derrames vão formando aquarelas/registros do sentimento e sendo expostos na parede da galeria ao longo da exposição.

Duda Las Casas é carioca, diretora de TV e cinema, estudou artes visuais no Rio de Janeiro. Duda se divide entre Brasil e Portugal onde pesquisa a língua portuguesa na Universidade Nova de Lisboa. Estudou no EAV Parque Lage e já expôs vídeos e instalações na Casa França Brasil, Paço Imperial, Espaço do Conhecimento da Praça da Liberdade (BH), Palácio Rio Negro em Petrópolis, entre outras exposições. Titias, obra de Duda que participa da mostra do Sesc Copacabana, é um vídeo-poema com fotografias e imagens das reuniões familiares em que as tias de Duda estavam presentes, capturadas pelo celular ao longo de anos, entremeadas de poemas e versos que a própria artista escreveu. Titias é o difícil trabalho de luto e despedida daqueles que já se foram, entre eles, sua madrinha, que faleceu de Covid-19, mas também e sobretudo a celebração de suas vidas.

Fernanda Leme é natural do Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Arquiteta e artista, Fernanda Leme se debruça sobre a imagem, inclusive a sua própria, repetidas vezes, e torna pública certa intimidade. A artista pinta a partir das fotografias que faz com o celular, ou de seu arquivo pessoal ou extraídas das mídias. No políptico exposto na mostra, Fim da infância I, cenas de livros infantis, de desenhos animados, misturam-se a retratos de viagem tão comuns nas redes sociais. Nessa obra, sob a paleta explosiva, esfuziante, em concordância com a cena feliz, insinua-se algo sinistro como um sintoma, como um mal-estar coletivo que assombra estes tempos.

Julie Brasil, guatemalteca de cidadania brasileira, é artista visual e professora substituta de desenho na Escola de Belas Artes da UFRJ. Atuou como professora convidada no Programa de Pós-Graduação da Linha de Imagem e Cultura para a disciplina de Imagem e Colonialismo na mesma instituição. Sua performance Quitapenas provém do Popol Vuh, livro da mitologia maia em que a humanidade foi criada pela deusa Ixmukané. As Quitapenas atuam como ouvintes, aliviando os problemas das pessoas. A performance de Julie consiste em escutar, em lugar reservado, os visitantes da exposição. Sua indumentária, típica da cultura indígena guatemalteca, será exposta na mostra. Ela também apresentará Quitapenas bordadas, cujas bonecas guardiãs são expostas presas a armas bordadas em lonas.

María de los Vientos nasceu em Medellín, Colômbia. Vive e trabalha entre a Colômbia e o Brasil. Formada em Desenho industrial na Universidad de los Andes (2005-2010), e Desenho Visual e Produção Cênica em LaSalle College International de Bogotá (2004-2005). Sua pesquisa se baseia na criação de ficções, mitos e fábulas, fazendo uso da pintura, fotografia e ações performativas. A ancestralidade latino-americana, suas experiências oníricas e de viagem, a cultura popular e elementos locais são a fonte de seu processo artístico. Oxchet Sant’ Ermishk  são foto-performancesda Série Incorporações da artista, que faz uso demateriais do seu cotidiano, maquiagem e objetos disponíveis nos lugares onde decide aparecer, para evocar a multiplicidade e as forças femininas que a habitam. 

Mercedes Lachmann vive e trabalha no Rio de Janeiro. Graduada em Artes pela PUC-RJ, continuou sua formação na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Investiga questões relativas aos ciclos da vida, as transformações da matéria e a escassez dos recursos naturais. Mercedes fez um grande bastão de defumação com a colaboração do Círculo de Mulheres Erveiras da Mantiqueira, em Visconde de Mauá. Ele foi preparado com uma diversidade de ervas especiais para trazer energias de renovação, transformação e harmonização para a cidade e as pessoas. Sua queima aconteceu no final de julho de 2021 em torno de rituais de cura realizados com a força feminina. Sorria você está sendo defumado é o desdobramento em videoarte do projeto Defuma-Ação que será apresentado na mostra, junto com 2 esculturas da série Arraste. “Arraste” é como chamam o deslocamento das toras das árvores derrubadas por madeireiros nas florestas. As esculturas dessa série são feitas com partes de toras caídas pelas ruas da cidade e parques, que a artista recolhe e interfere com vidro que, ainda fluido, se arrasta pela madeira para abraçá-la e moldar-se à sua forma.

Roberta Paiva é natural de Paraíba do Sul (RJ), vive e trabalha no Rio de Janeiro. Arquiteta e artista, Roberta Paiva vem, desde 2009, desenvolvendo trabalhos em escultura, objetos, fotografias e instalações. Abrigo se caracteriza por um manto, medindo 210 x 132 cm, composto por uma colcha tecida pela avó da artista, na qual Roberta costura objetos ofertados por mulheres convidadas a tecer essa veste. Cada objeto traz consigo uma memória. Esses elementos reunidos e costurados formam um abrigo, pequenas memórias compondo uma memória coletiva, que transborda afetos, saberes, fazeres, relações, padrões, estruturas.

Rosa Paranhos nasceu em Belém (PA) e morou no Rio de Janeiro, São Paulo, Inglaterra e Portugal. Tem licenciatura plena em História e atua como arte educadora, professora, artista e curadora. Em sua ação performática Banca dos cuidados / Série Persona Encantada, a artista propõe resgatar heranças familiares – sua avó era benzedeira e suas tias também faziam rituais de limpeza – para montar uma banca com plantas sagradas do seu próprio quintal, ficar à escuta de quem quiser lhe confiar suas dores e desejos, e doar mudas e ervas aos visitantes da exposição, conforme as demandas de cada um. A banca de ervas continuará exposta após o término da performance.

Talita Tunala, nascida no estado do Rio de Janeiro, divide residência entre o município do Rio e a localidade Santo Antônio da Serra, na região metropolitana da capital, onde mantém seu ateliê. A série Suspiros, apresentada na mostra, surgiu da conexão tangível com a natureza a partir da queda inesperada de uma jaqueira de 25 metros no quintal da casa da artista, durante o isolamento sanitário da pandemia. Tocada pelo acontecimento e admirada pela beleza do interior de sua madeira, a dor vegetal ressoou na artista como a dor humana que lhe chegava diariamente. Iniciou, então, um conjunto de pequenas séries de desenhos de situações em salas de espera de atendimento hospitalar à Covid-19, realizados diretamente na madeira, tentando dialogar com os acontecimentos de sua superfície.

SERVIÇO 

Exposição: Porque é teu o meu cuidado

Visitação: até 17/07/2022

Horário: de terça a domingo, das 10h às 19h

Local: Galeria SESC Copacabana – Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana – Rio de Janeiro/RJ

Gratuito

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