Expo Diversos chega ao Rio de Janeiro com proposta de debate sobre a pluralidade brasileira

Com abertura no dia 22 de junho (sábado), às 15h, na Casa França-Brasil, a mostra reúne artistas que atuam em diferentes realidades culturais e regionais do país

16 min. leitura

Uma experiência imersiva e sensorial por obras que traduzem diferentes histórias, vivências e exaltam as diversidades de raça, etnia, crenças, idade, gênero e de pessoas com deficiência. Essa é a proposta da Expo Diversos, que estreia no dia 22 de junho (sábado), das 15h às 19h, na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro. A mostra poderá ser visitada gratuitamente até 4 de agosto, de terça-feira a domingo, das 10h às 17h. A realização é da CEC Brasil com patrocínio da Novelis e Ball Corporation – líder mundial em embalagens sustentáveis de alumínio –, via Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura.

Ao todo, são 23 obras de 14 artistas de diferentes gerações, trajetórias e territórios, que têm o objetivo de promover o debate democrático, educativo e sensível sobre a pluralidade da sociedade brasileira, através do pensamento crítico, da empatia e do acolhimento. Com curadoria de Bianca Bernardo e Vera Nunes, a exposição é itinerante, com temporadas já realizadas em São Paulo (SP) e Pindamonhangaba (SP). Ao fim da circulação – que ainda inclui Brasília e São José dos Campos – o objetivo é impactar mais de 5 mil visitantes, entre professores, estudantes e público espontâneo.

A Expo Diversos destaca histórias que retratam as particularidades vivenciadas por artistas que atuam com diferentes realidades culturais e regionais. São obras que fazem o público refletir sobre a valorização da cultura indígena, questionar o etarismo e exaltar a sabedoria ancestral, combater os preconceitos de raça, etnia e gênero, o machismo e lutar por uma sociedade mais justa e mais inclusiva.

“A exposição não captura a totalidade das perspectivas sobre diversidade, dada a singularidade intrínseca à condição humana. A iniciativa visa oferecer um recorte cuidadoso e modesto de memórias e narrativas de indivíduos diversos do Brasil, fomentando os direitos humanos e reconhecendo a pluralidade de visões que se traduzem em obras artísticas e diálogos enriquecedores”, ressalta Kaline Vânia, diretora da CEC Brasil.

Para a curadora Bianca Bernardo, a mostra funciona como uma plataforma de discussão, de aprendizagem e de compartilhamento de experiências sobre a diversidade, a partir da arte e da pauta dos direitos humanos no Brasil. “O tema principal é a diversidade, sendo tratada a partir dos direitos humanos e da importância de legitimar os espaços de respeito, para a construção do entendimento da igualdade a partir das nossas diferenças”, diz.

Vera Nunes, também curadora da Expo Diversos, destaca que a ideia é proporcionar um esperançar para este momento do mundo. “É o esperançar do Paulo Freire, de se juntar a outros e fazer de forma diferente. Queremos proporcionar um ambiente seguro, de experiências, de viver e conviver com pessoas. Somos frutos de diferentes histórias e tudo o que a gente quer é que as pessoas possam fluir do jeito que elas são e sejam respeitadas dessa forma”.

Com sua sede sul-americana localizada em São José dos Campos, uma das cidades por onde a exposição passará, a Ball acredita no poder da arte como ferramenta para levar mensagens importantes a cada vez mais pessoas. “Como uma empresa global, com diferentes línguas, culturas e formas de trabalhar, valorizar a diversidade é um imperativo para o nosso negócio, e não poderíamos estar mais orgulhosos de patrocinar a Expo Diversos. Acreditamos em valorizar a pluralidade das pessoas e gerar senso de pertencimento, e entendemos a arte como uma ferramenta poderosa para levar mensagens acerca de diferentes temas tão importantes, como a diversidade, para o público em geral”, afirma Suellen Moraes, Gerente de Diversidade & Inclusão da Ball na América do Sul.

Casa Diversa – As 23 obras contemplam diferentes linguagens, como pinturas, fotografias, esculturas, bordados e instalações, dispostas num percurso multissensorial dentro do conceito de Casa Diversa. O espaço remete a um ambiente domiciliar acolhedor e acessível, com projeto expográfico assinado pela artista baiana Rose Afefé, trazendo elementos como paredes, plantas, pedras, água e luzes, com o objetivo de proporcionar uma experiência ainda mais imersiva aos visitantes.

Autor da obra “O sol é para todos, mas a terra não!”, o artista visual, compositor e poeta Novíssimo Edgard avalia que o tema da mostra, por si só, já causa um impacto fantástico. “A Expo Diversos é um espaço que contribui para fazer as pessoas terem acesso à arte e perceberem que a diversidade pode ser um tema, não só pensando em gênero e raça, mas também na sensibilidade de pessoas que têm autismo, entre outras dificuldades, numa sociedade que nem a nossa, toda padronizada. E o fato de ela ser itinerante é genial porque ela vai ter esse sopro de vida que vai continuar a passar por outros cantos, o que é inspirador e renovador”.

O artista paulistano Subtu participa com a obra Um estudo sobre a Paz e realça que sua intenção é provocar uma reflexão mais ampla sobre o significado de paz. ”A ideia é refletir sobre a dimensão da paz individual que abrange justamente a diversidade. Porque uma pessoa que faz uma determinada escolha de gênero ou de estilo de vida, e que sofre preconceito, sofre discriminação, ela não tem paz sendo ela mesma, o que é algo muito repugnante, e mudar isso é uma reconstrução coletiva”.

Lua Cavalcante, artista, educadora e aleijada, reforça que sua grande luta é de não ser lida apenas como corpo de uma deficiência que padece. “Minha perspectiva é a de vincular meu corpo a outras lógicas, que não são a lógica da perda de algo. Então eu espero que as minhas obras tragam essa possibilidade de mais leituras, sobre as múltiplas possibilidades de existência que esse corpo me permite, inclusive sobre eu poder resolver enfeitar minhas muletas para batalhar com mais encanto também”, destaca a artista, que traz para a Expo Diversos as obras Amuleta de Aleijeidu e Rede de Descanso e Mandinga de Aleijadu

Para garantir a acessibilidade da exposição para os visitantes, as obras poderão ser acessadas através de QR Code com áudios descritivos e placas técnicas em braille.

SERVIÇO

Expo Diversos – RJ

Local: Casa França-Brasil – Rua Visconde de Itaboraí, 78 – Centro, Rio de Janeiro-RJ

Data: de 22 de junho a 04 de agosto de 2024

Visitação: terça-feira a domingo, das 10h às 17h

Horário de atendimento exclusivo para pessoas com deficiência intelectual e mental: Quartas-feiras de 10h às 11h. Local acessível para cadeirantes

Entrada gratuita

Andréa Hygino

Artista visual pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestra em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ]. Atualmente, leciona no Instituto de Artes da UERJ e nos espaços de arte independentes do Estúdio Belas Artes e do Centro Cultural Lanchonete< >Lanchonete.

Obras: A cadeira, o levante, a gira, 2024

Auá Mendes

Indígena Mura transvestigênere, Auá Mendes é natural de Manaus. A artista é designer gráfica pela Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO, ilustradora, grafiteira, performer, maquiadora artística e fotógrafa experimental. Atualmente, mestranda em design pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Utiliza suas obras como ferramenta de fala e política do corpo marginalizado preto, indígena e transvestigênere.

Obra: Tupanawasú: A Grande Deusa, 2024 (da série A Encantaria sempre será um

portal de cura)

Déba Tacana

É ceramista de origem indígena e cigana. Artista visual pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (PE) e, atualmente, mestranda na linha de ensino de Artes Visuais pela Universidade do Estado de Rondônia, desenvolve pesquisas na área educacional de professores para as relações étnico-raciais. Ela também atua na educação não formal com mulheres encarceradas no sistema prisional e em territórios camponeses e indígenas.

Obra: Uru-Eu-Wau-Wau, 2021

Felipe Arantes Silva, ou Iskor

É artista visual, designer e professor. Atua com o muralismo contemporâneo, desenho, pintura, gravura e outras linguagens, que se somaram às primeiras incursões que o graffiti fez em sua vida. Possui ocupações artísticas em espaços públicos e privados, como SESI, MAR –Museu de Arte de Rua, SESC e Fundação Ema Klabin.

Obra: O mundo todo em um olhar, 2024

Jaime Prades

Nascido na Espanha em 1958, vive e trabalha em São Paulo desde 1975. Possui uma trajetória única dentro do panorama da arte contemporânea brasileira e uma obra bastante impactante. Nos anos 80, participou do grupo experimental TUPINÃODÁ fazendo instalações e pinturas nos espaços urbanos.

Obra: Transborda, 2024

Lua Cavalcante

Artista, educadora e aleijada. Tecnóloga em fotografia, pedagoga e se aventura pelos caminhos da pedagogia griô. Sua linguagem artística é a produção de experimentações em autorretrato, desenvolvendo investigações sobre as particularidades de seu corpo, lido sob o aspecto da deficiência. As obras permeiam um caminho identificado pela artista como espaço de proteção.

Obras: A Mandinga de aleijadu – Parte 4 ou Viver sem perna é bruxaria eterna e eu só quero descansar, 2024

Negana

Nascida na Paraíba, Ana Carla Pereira da Silva, a Negana, é uma artista visual que atua no grafiti desde 2015 com trabalhos influenciados pela estética negra, dando protagonismo a figuras femininas negras. Suas obras buscam valorizar e empoderar mulheres negras através de representações em espaços públicos.

Obra: Passarinheira, 2024

Nenesurreal

Considerada a mulher mais importante do grafitti nacional, a artista aplica em sua arte o que aprendeu através da economia solidária. Mulher negra, periférica, mãe, avó, artista plástica, artesã, educadora social e grafiteira foi ganhadora do Prêmio Sabotage em 2016 e participou do documentário Mulheres Negras: Projetos de Mundo. No Dia do Graffiti, em 2018, foi homenageada por seus trabalhos.

Obra: Atravessamentos, 2024

Novíssimo Edgar

Novíssimo Edgar é um rapper brasileiro, artista visual, compositor, poeta e performer. O seu trabalho explora as noções de futurismo indígena e da diáspora negra, utilizando som, imagens e formas tridimensionais. Novíssimo Edgar também é o autor do livro de ficção científica Ragde, que transporta para a literatura a pesquisa desenvolvida nos álbuns Ultrassom e Ultraleve e no cinema.

Obra: O sol é para todos, mas a terra não!, 2024

Paulo Desana

Cineasta, fotógrafo e produtor indígena em São Gabriel da Cachoeira (AM), apresenta uma série de fotos que visa mostrar a pluralidade das diferentes identidades indígenas. Suas obras celebram e ressaltam as personalidades mais importantes dos territórios indígenas, como o pajé, a artesã, a curandeira e a criança, personalidades fundamentais para a construção de uma sociedade equânime. O uso das tintas em cor neon reforçam os traços e a identidade de um povo que precisa de proteção para se manter vivo.

Obra: Madalena Fontes Olímpio, 202

Rafa Bqueer

Artista visual pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Rafael Bqueer é paraibano que vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. As práticas performáticas de Rafael Bqueer partem de investigações sobre arte política, sexualidade, afrofuturismo e decolonialidade. Drag queen e ativista LGBTQI+, Bqueer tem um trabalho que dialoga também com vídeo e fotografia, utilizando de sátiras do universo pop para construir críticas atentas às questões da contemporaneidade. Atua de forma transdisciplinar com vivências entre a moda, escolas de samba e arte contemporânea.

Obra: Bicha Papona (boca), 2023 / Bicha Papona (garra), 2023

Rose Afefé

Vencedora do Prêmio FOCO 2023, a artista nasceu em Varzedo, no interior da Bahia. Sua pesquisa artística resgata memórias de infância, produzindo esculturas de paredes feitas com adobe (tijolo de barro cru) e cal, uma materialidade central no seu trabalho, mas também obras em outros suportes como a tela. A artista mora atualmente entre a Bahia, Rio de Janeiro e a Chapada Diamantina, onde constrói desde 2018 a Terra Afefé, uma micro cidade com construções em tamanho real.

Obras: Quintais, 2024

Subtu

Nascido e criado na cidade de São Paulo, o artista tem um trabalho marcado por obras de grande escala no espaço público. Sua pesquisa se debruça em materiais presentes no ambiente urbano, gerando novos desdobramentos, buscando trazer reflexões sobre questões sociais contemporâneas. Já participou de exposições em diversos países como Portugal, Tailândia e França e seus principais trabalhos incluem o maior mosaico de São Paulo localizado em um prédio do Brás e mais recentemente o Graffiti Para Cego Ver, com painéis em relevo e braille.

Obra: Estudos sobre a paz, 2024

Xadalu Tupã Jekupé

Artista indígena que usa elementos da serigrafia, pintura, fotografia e objetos para abordar em forma de arte urbana o tensionamento entre a cultura indígena e ocidental nas cidades. Sua obra, resultado das vivências nas aldeias e das conversas com sábios em volta da fogueira, tornou-se um dos recursos mais potentes das artes visuais contra o apagamento da cultura indígena no Rio Grande do Sul.

Obras: Jejaryiava ́i haúpei yakã (A avó, o menino e o rio), 2024 / Nhamandu rembietchara a jerojy (Dançando para o Sol), 2023

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