Entenda a relação da creatina com a saúde cardíaca

Especialista diz que é importante que as pessoas saibam que a creatina é um composto orgânico nitrogenado, natural e está presente no organismo humano, principalmente nos músculos e cérebro e em alguns alimentos como carne e peixe

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A creatina desempenha um papel crucial na produção de energia celular e no transporte intracelular de energia. A suplementação de creatina, especialmente a forma monoidratada, tem sido amplamente estudada em contextos esportivos e no tratamento de enfermidades. Segundo o cardiologista Bruno Gustavo Chagas (CRM-RO 4359 e RQE 1140), a creatina é conhecida por sua capacidade de aumentar a força e a resistência muscular, o que a torna um suplemento popular entre atletas e praticantes de atividades físicas. Além disso, estudos mostram que a creatina pode ter benefícios para a saúde em geral, como melhorar a função cognitiva, reduzir o risco de doenças neurodegenerativas e até mesmo auxiliar no tratamento de certas doenças cardiovasculares, como, por exemplo, a insuficiência cardíaca.

A creatina é fundamental para a função cerebral e para a contração do músculo estriado esquelético e cardíaco (miocárdio), por participar na produção de energia celular e no transporte intracelular de energia, melhorando o metabolismo energético cerebral e do coração. O especialista explica que em condições de insuficiência cardíaca, os níveis de creatina e fosfocreatina diminuem devido à redução da expressão do transportador de creatina e à degradação da fosfocreatina para evitar a exaustão de energia.

Isso resulta na baixa concentração de creatina, diminuindo a capacidade de contração miocárdica e, consequentemente, do bombeamento de sangue pelo coração, sendo um preditor de mortalidade. “Portanto, há fortes justificativas para a suplementação de creatina em casos de insuficiência cardíaca, embora mais estudos sejam necessários para confirmar sua eficácia”, observa.

Benefícios e contraindicações

De acordo com o cardiologista, os benefícios potenciais da creatina para a saúde cardiovascular incluem a melhoria de parâmetros circulatórios e energéticos em pessoas saudáveis e específicos na insuficiência cardíaca, auxiliando na melhora dos sintomas e na recuperação da função; diminui a toxicidade cardíaca induzida por quimioterápicos devido às suas propriedades antioxidantes e a capacidade de aumentar a expressão do transportador de creatina.

Contudo, Bruno lembra que a suplementação de creatina deve ser cautelosa em pacientes com disfunção renal, por poder haver um risco aumentado de complicações da função desse órgão. “A insuficiência renal aguda ou crônica e a desidratação são as contraindicações formais para a suplementação com creatina. Já a gravidez e a amamentação são contraindicações relativas por não haver estudos científicos suficientes, portanto, é recomendável evitar o uso nesses períodos”, alerta.

A recomendação da creatina

O médico comenta que a suplementação de creatina é indicada em várias condições clínicas e fisiológicas. Conforme evidenciado na literatura médica, as recomendações englobam:

Doenças hereditárias: onde a síntese de creatina é prejudicada, a suplementação pode ter um efeito modificador da doença, especialmente se iniciada logo após o nascimento.

Distrofias musculares: há evidências robustas de que a creatina melhora a força muscular e o bem-estar geral nesses casos.

Miopatia por estatinas e depressão resistente ao tratamento: a creatina tem mostrado eficácia na prevenção secundária em mulheres.

Vegetarianos e veganos: como não consomem creatina dietética, a suplementação pode aumentar o desempenho muscular e neuropsicológico, especialmente em atletas ou pessoas que realizam esforços físicos ou mentais intensos.

Atrofia muscular e sarcopenia: é eficaz na atrofia muscular e sarcopenia (massa muscular abaixo dos níveis considerados saudáveis) em idosos e em pacientes desnutridos por qualquer motivo.

Desempenho esportivo: é amplamente utilizada como um auxílio ergogênico para melhorar o desempenho em exercícios de alta intensidade e curta duração, além de potencializar adaptações ao treinamento.

Saúde feminina: em mulheres, a suplementação pode ser benéfica durante a menstruação, gravidez, pós-parto e menopausa, melhorando a força, função muscular e possivelmente o humor e cognição. Além disso, há evidências de sua utilidade em situações de déficit energético cerebral, como fadiga mental e privação de sono.

Insuficiência cardíaca: embora mais estudos sejam necessários, há uma justificativa para o uso de creatina na insuficiência cardíaca, devido à sua capacidade de melhorar parâmetros específicos da doença e a força muscular.

Orientação médica

O médico ressalta que a suplementação de creatina deve ser feita com orientação profissional, pois seu uso inadequado pode causar efeitos colaterais indesejados. “É fundamental seguir as recomendações de dosagem e combinar o uso da creatina com uma dieta equilibrada e um programa de exercícios adequado para obter os melhores resultados”, aponta.

Bruno Gustavo Chagas

Dr. Bruno Gustavo Chagas – Foto divulgação

O especialista chama a atenção que o indivíduo deve comprar a creatina monoidratada na loja da fábrica, por risco de falsificação e contaminação. Ademais, é primordial diluí-la em água ou suco de fruta natural, sem açúcar, e beber todos os dias no mesmo horário, independente da hora dos exercícios físicos diários. “Depois que é atingida a saturação de creatina nos tecidos, a dose diária só mantém o armazenamento”, pontua.

Em relação à segurança dos rins, embora a creatina seja geralmente segura, há preocupações sobre seu uso em indivíduos com doença renal preexistente. Bruno reforça que estudos mostram que a suplementação pode aumentar os níveis séricos de creatinina, mas isso não necessariamente indica disfunção renal, pois a creatinina é um produto da degradação da creatina. Entretanto, ele afirma que é prudente evitar doses elevadas (>mais de 3-5 gramas/dia) em pacientes com risco de disfunção renal, como aqueles com diabetes, hipertensão ou taxa de filtração glomerular reduzida. “É importante dosar os níveis de creatinina no sangue e calcular a taxa de filtração glomerular dos rins antes de iniciar a suplementação de creatina”, pondera.

A dosagem típica de creatina envolve uma fase de carga de 20 gramas/dia dividida em 4 doses de 5 gramas por 5-7 dias, seguida por uma fase de manutenção de 3-5 gramas/dia. Alternativamente, uma abordagem sem fase de carga pode ser utilizada, com 3-5 gramas/dia desde o início, embora a saturação muscular de creatina ocorra mais lentamente.

Estudos adicionais ratificam a segurança da creatina em indivíduos saudáveis, sem efeitos adversos significativos em parâmetros hepáticos e renais. “Os efeitos adversos mais comuns incluem ganho de peso (principalmente devido à retenção de água nos músculos), cãibras musculares, náusea e diarreia. Estes efeitos são geralmente leves e autolimitados”, finaliza.

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