A palavra de hoje é: CORAGEM. Entendo coragem como o encontro da emoção com a razão, posto que pensar nela não é desconsiderar todos os movimentos físicos e mentais que advêm do medo, por exemplo. É preciso considerar essa e outras emoções, observando como elas chegam no corpo e na mente, tomando consciência dos sentimentos que elas produzem, ao mesmo tempo que se coloca em ação no sentido de enfrentar todos os desafios que são interpretados a partir do sentir.
Você já parou para pensar sobre como são construídos os diálogos corajosos?
Penso que uma das bases do diálogo é a conexão. A conexão que cria vínculos invisíveis, mas extremamente fortes e potentes. A conexão vem da entrega de interesses mútuos na qual todas as pessoas presentes no diálogo estão disponíveis para a condição de “dar algo” (seja o que lhe angustia, lhe frustra, ou pode ser aquilo que esteja lhe causando alegria, agitação, euforia – seus sentimentos) e, concomitantemente, para a condição de “receber algo” (seja amor, carinho, consideração, reconhecimento, escuta etc. – suas necessidades).
Contudo, para que estes interesses mútuos sejam pontos de conexão, é preciso mais um elemento que traz significado de entrega, de presença: a VULNERALIBILIDADE!
A vulnerabilidade pode ser explicada de diversas formas, mas será compreendida da seguinte maneira: “falar a partir do que verdadeiramente você está sentindo, ou seja, é estar conectado com você mesmo, se apresentando por inteiro para a outra pessoa.
Quando se coloca diante da pessoa que deseja dialogar expondo assertivamente o que está acontecendo (quais sentimentos e qual situação que estão rodando seu corpo e seus pensamentos), não é preciso escolher as palavras certas ou a forma certa de se falar. Porque o primeiro passo em qualquer diálogo não é a escolha do que é CERTO, o início é se colocar perante a pessoa que seu coração lhe diz que pode contribuir (que pode lhe ajudar/que você precisa conversar) e falar com ela sobre o que está vivo nos seus pensamentos.
E MAIS UM COMPONENTE IMPORTANTE: não esquecendo o que está vivo no seu corpo – QUE MENSAGENS ESTES PENSAMENTOS ESTÃO MANDANDO PARA O SEU CORPO? Esses são os seus sentimentos! Falar por meio deles sem receio de ser julgado é um movimento importantíssimo para se ter um diálogo corajoso.
Na maioria das vezes, e até inconscientemente, se faz a opção de não falar abertamente do que está pensando e de como você está diante destes pensamentos (o que está sentindo em relação a eles), porque, ao longo da construção da humanidade, acreditou-se na ideia da polariedade (só existe um lado CERTO ou um lado ERRADO) que levou o ser humano a viver condicionado às VERDADES ÚNICAS.
Por conta disso, mesmo sabendo que a pessoa ali diante de você é – uma escolha consciente sua e um ser humano que pode receber sua fala livre de julgamentos moralizadores –, você se depara com as seguintes “afirmações” rodando o seu mental:
- Ela não vai me compreender ou;
- Ela vai me achar fraco/frágil ou;
- Ela vai me criticar/me julgar de maneira que não darei conta ou;
- Ela vai usar meus sentimentos para me magoar/me ferir ainda mais…
O que quero dizer é que, primeiro: tente observar que, mesmo antes de buscar o diálogo com uma pessoa, tem a tendência de construir uma história no seu mental do que pode acontecer a partir da sua fala e acaba acreditando que essa história é REAL – que é assim que vai acontecer! O segundo ponto: você esquece completamente que pode escolher a pessoa que conversará e que essa escolha deve vir do seu CORAÇÃO, ou seja, por meio da voz que é muito sincera contigo – pois é o lugar onde mora a sua essência (quem você é). Então, existe uma grande chance dessa pessoa escolhida acolher a sua fala da melhor maneira possível!
Posto isso, se faz necessário trazer algumas informações a respeito dos diálogos corajosos:
Lembre-se que mudanças podem acontecer, histórias mudam! A vida é impermanente, não tem controle sobre ela e por isso você não tem domínio sobre as histórias que constrói no seu mental – NO SEU IMAGINÁRIO! Em outras palavras – não se prenda as possibilidades que podem acontecer no decorrer do diálogo e após o diálogo! Você quem cria essas possibilidades, mas a vida não é algo estático (uma tela de quadro), pelo contrário ela muda toda hora, a cada instante.
Não tem como você saber COM CERTEZA como a pessoa escolhida para se ter uma conversa vai se comportar!
No entanto, lembre-se que SE ESCOLHEU é porque confia e sabe que existirá respeito mútuo. Sendo assim, não é qualquer pessoa – ELA É A PESSOA ESCOLHIDA POR VOCÊ COM A AJUDA DO SEU CORAÇÃO, então ela vai estar disponível para te escutar – PORQUE SE IMPORTA CONTIGO”

O lema é: NÃO CRIE EXPECTATIVAS EM RELAÇÃO AO QUE A PESSOA VAI FALAR OU COMO ELA VAI SE COMPORTAR! Você não sabe como a outra pessoa pode agir ou o que ela pode dizer. Visto que, apesar de ser uma pessoa que você tem afinidades – por exemplo, vocês são duas pessoas DIFERENTES e cada ser humano se comporta a partir do seu sentir.
E é exatamente por isso que o DIÁLOGO É CORAJOSO! Porque ele exigirá de você a aceitação da sua vulnerabilidade, característica presente em todos os seres humanos, e até me atrevo a aumentar a abrangência para CARACTERÍSTICA PRESENTE NOS SERES VIVOS, pois a VULNERABILIDADE é o instinto de sobrevivência falando mais alto.
Não esconda a sua vulnerabilidade e não tenha medo ser vulnerável! É ela que te faz CORAJOSO, pois ela te tira da zona de conforto – tira da inércia – te move para o próximo passo em qualquer circunstância.
Sua vulnerabilidade é a sua aliada, sua companheira de jornada! Então, use-a… dando a ela a sua melhor presença – sua consciência de ser VULNERÁVEL!
Fabiana Lima Santos – Educadora Social. Gestora de Conflitos com foco em Cultura de Paz na Educação pelo IFBA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. Fundadora e Coordenadora do Instituto De Coração Para Coração. Facilitadora de Diálogos Restaurativos pela AJURIS – Escola de Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul e com Aprofundamento em Facilitação em Diálogos Restaurativos pela AJURIS – Escola de Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul. Mediadora de Conflitos Extrajudicial certificada pela Câmara Mediati e com Aprofundamento em Mediação & Arbitragem pela FGV – Fundação Getúlio Vargas e também em Mediação Narrativa Circular ministrada por Héctor Valle na Coonozco/Diálogos Transformativos e com certificação Internacional pela Sociedad Científica de Justicia Restaurativa (Espanha) e Coletivo Diálogos (México), como também pela EMAB – Escola de Magistrados da Bahia.
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