Pensar na relação pais e filhos é estar verdadeiramente atento ao processo de educação que tem como base o sensível/o sentir. Entendendo que esse ato de educar tem vínculo direto com a aprendizagem sobre si mesmo e, ao mesmo tempo, com o desenvolvimento da confiança no convívio com o outro, ou seja, reconhecendo o outro como parte fundamental da marcha evolutiva de qualquer ser humano.
Essa reflexão começará tendo como norte a seguinte pergunta: Como construímos elos humanizadores na convivência familiar?
Inicia-se, aqui, acreditando que essa pergunta está intimamente ligada ao emocionar e, por conseguinte, ao quanto se está presente ao sentir. As ações (o falar e o agir) estão preenchidas de emoções que naturalmente chegam no corpo e ganham pessoalidade por meio dos sentimentos. Contudo, habitualmente, aprendeu-se a ignorá-los, entendeu-se de forma equivocada que a comunicação mais clara é aquela que é objetiva (pode-se dizer racionalizada), ou seja, sem o reconhecimento das emoções e, consequentemente, sem compreensão dos sentimentos.
Todavia, esse hábito não fez as emoções deixarem de ser parte integrante do ser humano e não afastou todos os sentimentos que estão vivos na fala e no agir de qualquer indivíduo. Pelo contrário, isso gerou mais desconexão consigo mesmo e com o outro, fazendo com que as mensagens trocadas ficassem na superficialidade e não transmitissem a realidade vivida e experimentada por si e com o outro.
Refletir sobre os elos humanizadores é fazer esse movimento de resgate do sentir e de expressar a vulnerabilidade, porque é a partir desses dois pontos que se constrói vínculos fortes e potentes, ou seja, é no espaço do sensível e de expressão desse sentir que se retorna ao que é naturalmente humano e é nesse lugar que se reconhece a igualdade, por isso é onde gera-se conexão.
E é nesse sentido que se promove a sabedoria sobre si e sobre estar em coletividade, eis que quanto mais se busca a percepção das emoções e a compreensão do que elas querem transmitir (sentimentos), mais se mergulha nas histórias de vida e as respectivas narrativas que constituem o ser humano. E assim, mais possibilidade se obtêm para distinguir o que é seu (o que acontece com você e o seu ponto de vista) e o que é do outro (o que acontece com o outro e o ponto de vista dele), gerando mais presença as reais necessidades de cada um, em outros termos, o dialogar e o escutar se afastam do julgamento por comparação, bem como da imposição de vontades unilaterais.
Quanto mais se ensina e se aprende a cuidar daquilo que é importante para você – seus sentimentos e suas necessidades, com respeito e transparência, mais se constrói uma ponte entre pais e filhos baseada na confiança e na autonomia. Esse movimento de reconhecimento da humanidade transforma a maneira como cada um escolhe conviver, em outras palavras, quando cada indivíduo da relação se sente seguro e confiante no ambiente familiar e tem como pano de fundo a dimensão de si e do outro (o cuidado com os sentimentos e as necessidades), ele passa a compreender e a assumir sua cota de responsabilidade na construção de uma convivência harmônica e saudável.
Quando os pais educam seus filhos por meio de um convívio que promove o cuidado com a sua dimensão emocional, as crianças crescem aprendendo a se apoiarem nos seus próprios recursos, confiando nas suas próprias capacidades, ou seja, tornam-se um adolescente e um jovem empoderado de si e comprometido com o cuidar (escutar, acolher, equilibrar o dar e o receber) do outro. Os filhos, a partir de uma nova conduta dos pais, passam a conceber as necessidades de pertencimento e de interconexão que existem em todos os seres humanos e mais ainda, esses adolescentes e jovens desenvolvem-se com consciência do que é conviver com amor e respeito as diferentes formas de pensar e agir existentes em uma comunidade.
Os pais educam os filhos a cuidarem do que é sensível para eles (mundo interno), a partir da expressão verdadeira do que sentem. E com isso os pais também se posicionam como pontes e referências para os seus filhos se conectarem de forma empática e assertiva com o mundo externo (o estar com o outro).
Fabiana Lima Santos – Educadora Social. Gestora de Conflitos com foco em Cultura de Paz na Educação pelo IFBA – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. Fundadora e Coordenadora do Instituto De Coração Para Coração. Facilitadora de Diálogos Restaurativos pela AJURIS – Escola de Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul e com Aprofundamento em Facilitação em Diálogos Restaurativos pela AJURIS – Escola de Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul. Mediadora de Conflitos Extrajudicial certificada pela Câmara Mediati e com Aprofundamento em Mediação & Arbitragem pela FGV – Fundação Getúlio Vargas e também em Mediação Narrativa Circular ministrada por Héctor Valle na Coonozco/Diálogos Transformativos e com certificação Internacional pela Sociedad Científica de Justicia Restaurativa (Espanha) e Coletivo Diálogos (México), como também pela EMAB – Escola de Magistrados da Bahia.
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