Este texto é um pouco inspirado em meus filhos, minha experiência como mãe e na minha irmã quando teve seu primeiro filhote, meu sobrinho, e neste mês que se considera das mães, embora acredite que nosso mês ou dia é sempre. Quando falo de mães aqui, não falo somente de mulheres, pois há casais lgbtqia+ que também têm crianças, como é o caso da professora de literatura, Duda Salabert, vereadora mais votada da história de Belo Horizonte em 2020, ou da Thammy Miranda que decidiu assumir a função paterna em seu relacionamento. Cito esses, pois você pode ser que os conheça.
Há uma música antiga, Castigo, da cantora e compositora cujo codinome era Dolores Duran (Adiléia Silva da Rocha), que diz assim: “se eu soubesse naquele dia o que eu sei agora, eu não seria essa mulher que chora, eu não teria perdido você…” e por aí vai. Ela trata da questão do arrependimento por uma perda amorosa, o que não é especificamente o caso deste artigo. Todavia, aqui, vou usar o mote “se eu soubesse naquele dia o que eu sei agora” para ilustrar o porquê de ter adotado o título “conselho” para as mães de primeira viagem e que conselho seria este.
Bem, todas nós mulheres fomos criadas, mas não nascemos talhadas para ter filhos, concorda? As mulheres por muito tempo achavam que se não fossem mães não teriam realizado nada nesta vida. E muitas vivem até hoje assim. Nenhum demérito nisso, mas, graças a Deus, e a ciência, claro, as coisas mudaram. A vida hodierna fez a mulher sair do casúlo do pater familias e ir à luta. Quando fica de saco cheio do marido, literalmente, manda andar mesmo, e tem como se sustentar, quando trabalha fora e se banca. Muitas hoje estão assim. Então, algumas situações mudaram mesmo, não é?!
Lembro que cresci acreditando que tinha de ter uma família nuclear burguesa perfeita, do tempo da minha avó: pai, mãe e dois filhos (de preferência um casal, lindo!). Claro! Cresci assistindo a todos os filmes românticos mais vendidos e enlatados de Hollywood, embalada ao som dos Bee Gees, Elvis Presley, assistindo películas como Embalos de Sábado à noite entre outros lixos interessantes, mas que contribuem bem mal à formação do caráter de um adolescente – já imaginou como essa galera de hoje vai estar amanhã embalada ao som de funk, drogas e sexo explícito? Mas, vamos adiante.
Não podia ser para menos: cresci uma idiota perfeita, obcecada por marido príncipe e lar feliz. Não que isso não exista e longe de mim afirmá-lo, mas passava dos limites nessa fixação (Triste ver ainda hoje algumas menininhas acreditando que quando o cara se ajoelha para pedir sua mão em casamento com a caixinha das alianças nas mãos, está querendo dizer alguma coisa). Claro que, no meu caso, não podia ser diferente: achei um sapo “lindo de matar” que acreditava ser príncipe, casei com ele, tive dois filhos homens e nada foi como o previsto, obviamente. Enfim, tudo isso para dizer a você leitora/leitor: não desanime nem se desespere, você ainda é muito feliz.
Daí, vieram os filhos, como disse, umas fofuras, mas o pai roeu a corda. Não que eu ache alguma coisa de mais quando as mães criam os filhos, ou querem uma produção independente, é que não creio que seja a melhor opção para as crianças não ter função materna e paterna juntas. O tempo passa voando, amiga, muito rápido, muitíssimo… Portanto, programe ter filhos se você os quer ter um dia. Tente decidir (apesar de eu saber hoje que nem sempre isso é possível), mas programe poder dedicar mais do seu tempo a eles. Crianças requerem 1) tempo, 2) dinheiro, 3) paciência e 4) dedicação, se falta uma dessas coisas a você hoje, não os tenha ainda. Espere. Vai valer a pena esperar. E falo sério, a terceira opção é a de maior importância. E se você não tem paciência nem para se aturar ou entender, procure se cuidar antes de ter filhos, as coisas tendem a piorar.
Eu não tinha dinheiro, aliás, até hoje não tenho, rs, mas o resto sempre tive de sobra, talvez até por já ter sido inculcada com uma criação para a maternidade. Além disso, tive os dois tão novinha que, no início, achava tudo uma boa brincadeira de casinha. Separada, sem marido por perto e muito bem amparada na casa de minha mãe, tive a sorte de poder me dedicar e criá-los sozinha (com a ajuda dela, claro), o que por um lado foi muito bom. Quando o pai não tem qualquer preparo − pensava eu que o dano seria menor com ele a distância −, mas, hoje, creio que o dano possa ser o mesmo. Naquela época, achava que todas nós éramos meio mãezonas, quando não dos filhos, dos maridos. Graças aos estudos − entrei na faculdade, o que aconselho a todas (e todos) −, algumas coisas mudaram bastante, e algumas mulheres estão acordando que para ser “feliz” não precisam casar, ou ter um lar perfeito ou ser mães até, então, para que a pressa?
Mas se você já percebeu que essa é a sua praia, foi a minha, amo crianças (só os teria tido mais tarde, talvez), então tente ter filhos com alguém que possa exercer de fato a função paterna, pois ser mãe requer um bom apoio. E organize sua agenda para incluir seu filho/a, mesmo que queira voltar ao trabalho depois. A infância é prioridade, e até os 8 anos mais ou menos eles precisam demais de nós, não somente das mães, mas da dupla.
Alguns adolescentes hoje estão sem direção porque perderam o norte desde cedo, nunca tiveram com quem contar, faltou-lhes amor, alguém em quem se espelhar, se apoiar, se encontrar. Embora os apoiemos, eles carregam seus sofrimentos, imagine sem. Ajudem seus filhos a reconhecer suas falhas, suas dores, suas crises emocionais, que todos temos. E se você se sentir meio perdida/o, procure psicoterapia, cursos sérios de educação parental e maternagem em que as pessoas tenham formação em psicanálise, entre outras – nós precisamos de apoio para apoiar.
Enfim, sem dinheiro também é brabo de se criar bem qualquer criatura. Só o meu gato consumia uns 10 kg de ração por mês! Filhos, bah! Consomem muito mais: a vida. A vida toda, o tempo, depois que você os têm nada é como antes, a não ser para quem os abandona. O que também existe!
Todavia, se você não pode, não soube ou não quis esperar, segue o último e derradeiro “conselho”: dê seu jeito, largue o que não for TÃO importante, ou, se for, concilie boa parte do tempo que você gastava com outras coisas para curti-los, no caminho você verá que há recompensas e é gostoso: vale a pena. Eles, assim como você, só precisam ser amados e cuidados.
Já que havia falado de minha irmã, vou falar de uma situação. Antes de ter um, ela me disse que era louca para ter um filhinho. Você precisava vê-la quando o moleque ainda não tinha nem três meses… e olha que ela é guerreira! No início, na gravidez, dizia, “tô doida para ver a carinha dele”, depois “por que que esse menino não cresce logo?”. Mãe é tudo “louca” mesmo! – disse ela depois de passado algum tempo. Os filhos que não se assustem, mas eles também o são!
Afinal de contas, quem é totalmente normal neste mundo, hein?
Janice Mansur é escritora, poeta premiada, professora, revisora de tradução e criadora de conteúdo.
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