Inferno, texto do dramaturgo argentino Rafael Spregelburd, estreou recentemente em Buenos Aires (setembro de 2022) num dos principais palcos da famosa Avenida Corrientes com direção do próprio autor. Inédita no Brasil, a peça ganha uma montagem, dirigida e traduzida por Malú Bazán, com estreia prevista para 08 de outubro, no Teatro Uol, onde fica em cartaz até 28 de novembro. O elenco traz Camila Czerkes, Gabriel Miziara, Henrique Schafer e Luciana Carnieli. Assim como outros textos do ator e dramaturgo argentino encomendados por companhias de outros países, este foi uma encomenda do teatro austríaco Vorarlberger Landestheater Bregenz em comemoração aos 500 anos do pintor Hieronymus Bosch (1450-1516).
Malú Bazán nasceu na Argentina, mas foi criada aqui e se considera uma diretora brasileira. Esse trânsito que faz parte dela lhe interessa, e acredita na potência da troca entre esses dois países e todos os outros que compõem nossa América Latina. “Através das dramaturgias, podemos entender como cada um desses países lida com sua história, e como a elabora. Essa troca entre nós, a construção desse diálogo, é de uma potência revolucionária.”, comenta. Por isso ressalta a importância dessas duas montagens coexistindo nesse momento.
A comédia de Spregelburd é uma espécie de labirinto. Na trama, uma confusão causada por um funcionário do Vaticano faz com que o inferno bíblico deixe de existir no subterrâneo e passe a ficar escondido nos detalhes mais minuciosos da existência humana, até na linguagem ou principalmente nela.
Nesse contexto, Filipe (Gabriel Miziara), um escritor de resenhas turísticas, recebe a visita surpresa de três emissários (Camila Czerkes, Henrique Schafer e Luciana Carnieli) que afirmam que a única maneira de se livrar do inferno é aprender as sete virtudes: Caridade, Fé, Esperança, Temperança, Justiça, Prudência e Fortaleza.
“Se trata de uma fábula moral, mas sem uma moralzinha”, diz o autor. Spregelburd nos conduz nessa jornada que mais questiona do que afirma essas virtudes, e como muito humor nos faz olhar para a história latino-americana, seus momentos sensíveis, suas contradições e suas narrativas ainda não completamente elaboradas e que ainda precisam ser revisitadas.
O autor, segundo a diretora, tenta criar uma espécie de gramática teatral em seus textos. “Spregelburd tem um interesse específico pela linguagem como construção de um mundo. A partir da teoria do caos, ele brinca com as palavras, subverte sentidos. Cria um mundo aparentemente desordenado, polifônico, mas vai construindo ordens próprias para elaboração dessa gramática. Cria tensões e distensões onde o público é convidado o tempo todo a rever seu olhar, porque a cada momento existem quebras de expectativas, subversões e mudanças na trama.”
A tradução da obra é também de Malú Bazán que, cada vez mais, pesquisa no teatro latino americano questões que são pertinentes não somente em seus países de origem mas também no contexto brasileiro. “Costumo dizer que toda peça tem um CEP, uma data de nascimento e um CPF, que mostram onde, quando, em que contexto e por quem ela foi escrita. Venho construindo um diálogo a partir das traduções e montagens desses textos, estabelecendo uma conversa entre essas dramaturgias com a nossa realidade e nosso momento presente.”, explica a diretora.
A encenação de Bazán, também prioriza o jogo dos atores e para isso se apoia na limpeza do espaço cênico, uma característica de suas direções. Na contramão das montagens do próprio Rafael que comumente coloca em cena o caos explicitando seu aspecto estereofônico, ela aposta na síntese e na subversão dos poucos elementos cenográficos para a construção desses múltiplos universos que se sobrepõe e coexistem nas peças de Spregelburd.
“Inferno é um labirinto de narrativas, um jogo da amarelinha, uma comédia perigosa sobre temas sérios. O importante é que através de dramaturgias como essa acredito que possamos ampliar nosso horizonte. Espiando o jardim de nossos vizinhos, talvez possamos rever o nosso e assim abrir possibilidades de entendimento sobre nossa própria história.”, acrescenta.
Inferno faz parte do projeto Todo viabilizado pela da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo através da Lei de Incentivo PROMAC. O apoio é da GUIDE Investimentos.
Sobre Malú Bazán
Mulher de teatro, diretora, atriz e professora. Formada pelo TUCA/PUC (1996). Trabalhou com o Grupo TAPA de 2000 a 2017, com o qual atuou em diversas peças, ministrou diferentes Grupos de Estudos para atores e dirigiu em 2012 seu primeiro espetáculo A Noite das Tríbades, de Per Olov Enquist.
Em 2018, foi indicada ao APCA de melhor direção pelo espetáculo Aproximando-se de A Fera Na Selva, de Marina Corazza. Alguns dos outros trabalhos anteriores como diretora são: O Corpo da Mulher Como Campo de Batalha de Matéi Visniec (2016); Alice, retrato de mulher que cozinha ao fundo (2016), que fez parte do projeto Escritoras na Boca De Cena, e Soledad – A Terra é Fogo Sob Nossos Pés (2015). Em 2021, estreou seus dois últimos trabalhos como diretora Mulheres Sonharam Cavalos, de Daniel Veronese, e A Pane, de Friedrich Dürrenmatt.
Sinopse
Nessa comédia de Rafael Spregelburd, uma confusão causada por um funcionário do Vaticano faz com que o INFERNO bíblico deixe de existir no subterrâneo e passe a ficar escondido nos detalhes da existência humana. Filipe (Gabriel Miziara), um escritor de resenhas turísticas, recebe a visita surpresa de três emissários (Camila Czerkes, Henrique Schafer e Luciana Carnieli) que querem ensinar-lhe as sete virtudes para tirá-lo desse inferno que, segundo eles, ocupa a vida deste escritor. Uma dramaturgia contemporânea argentina que com muito humor nos faz olhar para nossa história latino-americana.
Ficha técnica
Texto: Rafael Spregelburd
Direção: Malú Bazán
Elenco: Camila Czerkes, Gabriel Miziara, Henrique Schafer e Luciana Carnieli
Desenho de Luz: Miló Martins
Vídeos: Beto De Faria
Figurino: Anne Cerutti
Cenário: Héctor Bazán e Malú Bazán
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção Executiva: Fernando Azevedo
Direção de Produção: André Canto
Produção: PFSI Produções
Serviço
O Inferno, de Rafael Spregelburd
Temporada: 8 de outubro a 28 de novembro, aos sábados, às 22h, aos domingos, às 20h, e às segundas, às 21h
Teatro Uol – Shopping Pátio Higienópolis – Avenida Higienópolis, 618, Higienópolis
Ingressos: R$ 40 a R$ 100
Classificação: 14 anos
Duração: 100 minutos
Capacidade: 300 lugares
Acessibilidade: local acessível para cadeirantes (2 lugares)