Celulares ou livros: o que os alunos devem levar para a sala de aula?

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O Projeto de Lei nº 104/2015, proposto pelo deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), propõe a proibição do uso de aparelhos eletrônicos portáteis, como celulares e tablets, nas salas de aula de instituições de ensino básico e superior. O projeto busca criar um ambiente mais propício ao aprendizado, livre de distrações que os dispositivos podem causar. No entanto, o texto permite a utilização desses aparelhos caso eles estejam inseridos em atividades pedagógicas, mediante autorização de professores ou da equipe gestora.

Essa proposta levanta uma questão central para o ambiente escolar: o que é mais benéfico para os alunos levarem para a sala de aula, celulares ou livros?

Os livros têm sido, por séculos, instrumentos essenciais de ensino. O uso do livro impresso promove uma experiência de leitura mais imersiva, ajudando a desenvolver habilidades importantes para a compreensão textual e análise crítica. Estudos indicam que a leitura em papel tende a facilitar o aprendizado, pois evita as distrações que os dispositivos eletrônicos frequentemente apresentam, como notificações e outras funcionalidades que desviam o foco.

Além disso, o uso de livros nas escolas incentiva o desenvolvimento de hábitos de leitura, que são fundamentais para a formação de indivíduos mais críticos e preparados para analisar informações de maneira independente. A leitura de livros clássicos, por exemplo, contribui para o desenvolvimento de vocabulário, gramática e conhecimento cultural, ajudando os alunos a enriquecer seu repertório linguístico e intelectual.

Por outro lado, dispositivos eletrônicos como celulares e tablets oferecem vantagens importantes quando bem utilizados em contextos pedagógicos. Eles possibilitam acesso imediato a uma quantidade quase infinita de informações, oferecendo uma variedade de conteúdos multimídia que podem tornar o aprendizado mais dinâmico e interativo. Em sala de aula, o uso de aplicativos educativos, simulações interativas e plataformas de ensino pode enriquecer o conteúdo e proporcionar uma experiência de aprendizado diferenciada.

O problema é quando o uso irrestrito desses aparelhos torna-se hábito. Que professor gosta de explicar um conteúdo enquanto o aluno dá toda a sua atenção para a tela do celular ou fica com o fone no ouvido? Além de distrair os estudantes, comprometendo o foco e diminuindo o rendimento acadêmico, o uso inadequado de dispositivos eletrônicos pode expor os alunos a riscos, como o bullying virtual e o acesso a conteúdos inadequados. O projeto de lei busca minimizar esses riscos, restringindo o uso de celulares e tablets a momentos pedagógicos específicos.

A questão de escolher entre celulares e livros na sala de aula pode ser um falso dilema. A melhor abordagem parece ser uma conciliação entre os dois: o uso de livros para atividades que exigem concentração e aprofundamento, e o uso de dispositivos eletrônicos para acessar informações adicionais, realizar atividades práticas e explorar conteúdos de maneira interativa.

Uma possibilidade seria que as escolas adotassem políticas de uso controlado de dispositivos eletrônicos, definindo momentos específicos para o uso de celulares e tablets e estabelecendo regras claras para evitar distrações. Professores podem desempenhar um papel essencial nesse processo, orientando os alunos sobre como usar a tecnologia de maneira responsável e produtiva, incentivando uma “etiqueta digital” que ensine o uso consciente e respeitoso dos aparelhos em sala de aula.

Outra alternativa interessante seria a implementação de programas de educação digital, que ensinem aos alunos habilidades importantes, como a verificação de informações, a navegação segura na internet e a ética no uso de dispositivos. Esses programas poderiam ajudar os estudantes a desenvolver uma relação mais saudável e equilibrada com a tecnologia, ao mesmo tempo que preservam os benefícios dos livros impressos para o aprendizado.

A proposta do Projeto de Lei nº 104/2015 levanta uma discussão fundamental para o ambiente educacional: qual é o papel dos dispositivos eletrônicos em sala de aula, e como eles podem coexistir com métodos tradicionais, como o uso de livros impressos. A busca pelo equilíbrio parece ser o caminho mais sensato. Uma política de uso responsável de dispositivos eletrônicos, combinada com a valorização dos livros e da leitura, pode formar alunos mais preparados e adaptáveis ao mundo contemporâneo, que exige tanto habilidades analíticas e interpretativas quanto competências digitais.


João Paulo Silva – @oviajantedasestrelas

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