A Bienal do Livro é, sem dúvida, um dos maiores eventos literários do Brasil. É um espaço de celebração da literatura, encontro de autores, leitores e editoras, tudo convergindo em torno do livro. No entanto, durante minhas visitas nesta 27ª edição do evento, em São Paulo, algo me provocou certo incômodo: a disparidade entre alguns estandes completamente vazios ou parcialmente ocupados e outros tão cheios que mal se podia transitar.
Essa cena levanta questões importantes sobre o consumo literário e a visibilidade de certos autores e editoras. Por que será que alguns espaços atraem multidões, enquanto outros ficam quase vazios? A resposta envolve vários fatores, desde estratégias de marketing até o apelo de best-sellers, passando pela forma como a cultura de massa é construída e como determinados gêneros e escritores recebem mais destaque do que outros.
Os estandes mais lotados, em geral, pertencem a grandes editoras e autores populares, já conhecidos do grande público, muitas vezes ligados à cultura digital. São autores que conquistaram seu espaço em grande parte pela exposição midiática, por suas presenças constantes em redes sociais, ou que souberam dialogar diretamente com o público.
Por outro lado, os estandes vazios muitas vezes pertencem a autores e/ou editoras independentes, menos conhecidos ou àqueles que trabalham com gêneros considerados “de nicho”. Não se trata de uma questão de qualidade, mas sim de visibilidade. A literatura é um reflexo da sociedade, e a forma como consumimos cultura também revela muito sobre nossas prioridades e interesses.
Esse contraste entre os estandes talvez revele algo mais profundo: uma tendência de homogeneização do mercado editorial. O espaço para a diversidade literária está sendo cada vez mais restrito. O leitor médio, muitas vezes bombardeado por algoritmos que priorizam o que já é popular, acaba desconhecendo obras e autores igualmente valiosos, porém com menos visibilidade.
A experiência de estar na Bienal e sentir essa desigualdade é uma reflexão sobre o mercado editorial como um todo. Como leitores, temos a responsabilidade de buscar a diversidade, de explorar o desconhecido e de não nos limitar ao que é mais fácil, mais acessível ou mais popular. Enquanto continuarmos a privilegiar o que já é sucesso, perpetuaremos uma lógica de consumo que exclui talentos e vozes importantes.
Talvez seja hora de repensarmos como consumimos literatura e de abrirmos espaço para novas vozes e novas narrativas, pois a riqueza da literatura está justamente na sua pluralidade. Essa experiência me fez refletir: quantos talentos passam despercebidos em meio às tendências? E mais importante, o que podemos fazer para mudar esse cenário? A resposta talvez esteja em nossa disposição em buscar o novo e o diferente, em ocupar aqueles estandes vazios, onde talvez resida o futuro da literatura.
João Paulo Silva – @oviajantedasestrelas