As Crianças têm culpa sempre

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Crianças, de certa forma, são um sonho de consumo. Desde sempre há casais querendo engravidar. Cientistas descobriram, há 45 anos, o “bebê de proveta”, ou seja, criaram a famosa fertilização in vitro (FIV) para as mulheres que não podiam engravidar, e, ainda hoje, pessoas procuram métodos conceptivos e/ou tentam adotar crianças para encher uma casa ou criar um lar.

Não vamos aqui falar das pessoas que querem ou não ter filhos e quais os motivos que as levam a isso. Porém, não dá mesmo para se falar em crianças sem se falar de adultos que querem tê-las. O mais incrível é que alguns adultos que dizem não gostar de crianças um dia já foram uma delas, e se não querem se colocar na posição de cuidadores, no mais das vezes é em virtude de traumas que sofreram na sua própria infância e hoje ainda não conseguem lidar.

Os casais que sonham em ter filhos “decidem” ter filhos por vários motivos, eu costumo pensar que seja uma inclinação. Mas podemos pensar que seja por tentar se realizar pessoalmente ou profissionalmente através dos filhos, como, por exemplo, quando eu invisto meus sonhos neles, ou seja, quando vejo possibilidades deles fazerem o que não pude fazer e posso me sentir um pouco mais feliz. Isso faz parte de mecanismos inconscientes de projeção, e por isso muita gente nega e diz que não, também, como um meio de defesa. Até por que se está no “modo” inconsciente, é algo que está em mim “sem que eu tenha consciência”, como se costuma dizer.

Algumas famílias pensam que um filho pode trazer harmonia para o lar, mas também pensam poder perpetuar seu legado educacional ou financeiro por meio deles, que eles podem assumir uma posição na empresa da família, ou podem apenas falar deles para os amigos como premiações e usá-los para enaltecimento próprio, usando-os como objetos, algo que “fizeram”, e podem se orgulhar disso.

crianças

Umas pessoas podem querer crianças por adorá-las, muitas vezes desde tenra idade, simplesmente por serem criaturinhas inocentes e divertidas, em geral. Outras pensam em sua própria velhice, pois sentem-se tão sozinhas desde sempre que quando se juntam com alguém que amam, pensam logo em ter os filhos para manter o perpetuamento da família e terem com quem contar na idade avançada.

A verdade é que quando se fala em crianças, fica difícil não falar de pais, de adultos e de todos os problemas psíquicos que envolvem essa relação, às vezes branda, às vezes extremamente confusa e traumática. Adultos são as crianças que conseguiram amadurecer, ou não, de modo que consigam repetir o ciclo, ou não, aperfeiçoando-o ou piorando a situação.

Quantos que se dizem pais abandonam suas crias, e quantos por necessidade ou benevolência  adotam outras crianças? Quantos conseguem elaborar seus problemas internos e levam adiante uma criação saudável e quantos rejeitam essa responsabilidade e desistem no meio do caminho de assumir seus deveres? Quantos são capazes de levar a cabo suas “decisões” de terem ou adotarem crianças e preparam um lar suficientemente bom para recebê-las? Quantos estão prontos para relegar suas necessidades a segundo plano para atenderem a das crianças pelo menos nos primeiros sete anos de vida?

crianças

Será que os que se dizem adultos e querem CRIANÇAS, estão se esforçando para amadurecer a fim de poderem receber esses pequenos no seio de sua maternidade e paternidade, ou de seus lares?

Depois que vão crescendo, quando as crianças começam a apresentar sua subjetividade,  rebelam-se contra a forma de agir dos pais, não querem seguir suas regras ou ser seus bonecos de experimentação ou seus troféus para a sociedade, então são maltratadas, chamadas de rebeldes, desobedientes, delinquentes e tudo o mais. Elas sempre serão as culpadas, pois é melhor que o outro assuma as falhas de meus erros, traumas, idiossincrasias, do que EU OLHAR para mim mesmo e fazer o necessário para mudar e reconhecer que não estou preparado, que não amadureci o suficiente, que preciso melhorar muito ainda como ser humano a fim de lidar com amor e respeito para com o outro − que não sou eu , apesar de ser meu filho.

As crianças têm de ter direito à voz, merecem ser ouvidas, acolhidas, amparadas, amadas, independentemente se eu como ADULTO hoje não fui amado quando pequeno. Seja adulto e veja a criança  que você pôs no mundo como ela necessita ser olhada!

Olhe também para você, para sua CRIANÇA, e ame-a, embora ela não tenha sido amada por alguém, ou como você gostaria que fosse.

Se for preciso, antes de ter filhos, ou no decorrer de sua “decisão” de tê-los, ou no decorrer de sua parentalidade, procure ajuda para não reproduzir com quem você ama, ou dar a quem você ama, o pior de você.

Que possamos valorizar o “ser criança” em todos os momentos da vida.

Se gosta de meu trabalho, dê-me o prazer de conhecer

meu livro novo “A Felicidade de Florbela”

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Janice Mansur é escritora, poeta, professora, revisora de tradução,
criadora de conteúdo no Instagram@janice_mansur
e no canal Better and Happier https://www.youtube.com/@betterhappier7501
e psicanalista  (atendendo online).
Contemplada no Tof of Mind Awards Internacional UK 2022,
 na categoria Escritora Destaque do ano.

Fotos: freepik/ArturSafron 

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