Análise faixa a faixa do álbum ‘Nesse exato momento” de Almério

6 min. leitura

O quarto álbum solo de Almério, lançado em abril de 2024, intitulado “Nesse exato momento”, é uma ode poética ao tempo presente. Com mais de 20 anos de carreira, o pernambucano retornou à cena musical com um trabalho que celebra o instante vivido intensamente, marcado por parcerias de peso como Maria Bethânia, Zélia Duncan, Mariana Aydar, Juliana Linhares, Chico Chico, Zé Manoel e Juliano Holanda. 

O disco inicia com “Laroyê”, uma saudação ao “pássaro mensageiro” — uma figura mítica e espiritual que traz a ideia de comunicação e passagem. O verso repetido com o final “ê” não só evoca uma musicalidade regional e popular, como também sugere um ciclo contínuo, como o próprio “ê” de “Laroyê”, reverberando em cadências que se repetem no universo sonoro de Almério. O uso desse recurso fonético reforça a fluidez de um ritual de transformação, presente ao longo de todo o álbum.

Em “Uma Inédita”, Almério aprofunda o conceito de regeneração. A letra explora metáforas biológicas e naturais como “cigarra saindo da casca” e “enguia elétrica” para simbolizar o processo de mudança e renascimento. A música transforma-se em uma experiência sensorial, evocando imagens de transmutação e uma contínua renovação, destacando o poder do ser humano em se adaptar, se reinventar e superar.

A faixa-título, “Nesse exato momento”, explode em energia frenética e convoca o ouvinte a viver o agora. Com um ritmo contagiante, Almério celebra a liberdade do momento presente, instigando uma ação imediata, sem tempo para hesitações. “Bora agora! É pra já, pra ontem!” — uma convocação quase imperativa, onde o prazer e a intensidade de viver encontram-se no centro do discurso.

Em “Tóxico”, Almério faz uma interessante brincadeira com a pronúncia popular e culta da palavra. A leveza da canção contrasta com o peso do tema — uma relação tóxica —, o que gera uma desconstrução interessante de como lidamos com as palavras e seus significados em contextos diferentes. Ao destacar as duas pronúncias, “tóchico” e “tóksico”, o artista brinca com a dualidade de como percebemos o que nos faz mal.

A parceria com Zélia Duncan em “Suspiro” se aprofunda na complexidade dos sentimentos humanos. Com imagens fortes e contrastantes, a letra é uma exploração das ambiguidades do amor, onde o que se sente, muitas vezes, está em oposição ao que se deseja. A metáfora de “implodir o peito” reflete o conflito entre o querer e o poder, o estar e o partir. É uma canção que se aproxima da melancolia, mas não se entrega a ela completamente.

“Antes de você chegar” retorna a um formato mais clássico do pop romântico, onde Almério expressa a saudade e o desejo em uma melodia cativante. A simplicidade da letra e a acessibilidade da melodia tornam a faixa um hino às esperas de um amor que, mesmo distante, permanece presente na memória.

Com “Beijo Beijo”, uma colaboração com Juliana Linhares, o álbum atinge um ponto de exaltação da paixão e da intimidade. As metáforas de fogo e calor dominam a letra, onde Almério e Juliana trocam versos que evocam o encontro de forças naturais — um “mar recebendo rio”, uma “boca comendo boca”. Aqui, a paixão é intensa, quase visceral, representada pela fusão de corpos e sentimentos.

“Me conheço” é um momento de introspecção e descanso. Almério celebra a importância do autocuidado, da pausa necessária para reequilibrar o corpo e a alma. A faixa evoca uma sensação de gratidão e autoconhecimento, quase como uma meditação em forma de canção.

A força de Maria Bethânia se faz presente em “Quero você”, uma canção que fala do amor em sua forma mais pura e incondicional. Bethânia traz uma solenidade à faixa, enquanto a letra transcende o tempo e o espaço, valorizando o desejo de felicidade mútua.

“Boy magia” transporta o ouvinte para o Recife, num cenário festivo e apaixonante. A letra evoca locais icônicos da cidade, criando uma atmosfera onde o amor e o desejo se misturam à alegria do carnaval. É uma celebração da liberdade e da intensidade das noites recifenses.

A penúltima faixa, “Malabares”, é um frevo envolvente que transforma a cidade em palco de conquistas amorosas. A metáfora do malabarismo reflete a destreza necessária para equilibrar o amor e as responsabilidades do dia a dia, tornando a canção uma bela metáfora para as relações.

O álbum se encerra com “15 segundos”, onde Almério e Juliano Holanda exploram a imersão no pensamento e na busca por um refúgio mental. A música captura a efemeridade dos momentos de clareza, que surgem e se vão, como os “15 segundos de esquecimento” que pontuam a letra.

O álbum “Nesse exato momento”, disponível nas plataformas digitais, convida o ouvinte a viver intensamente, a se permitir sentir cada segundo. Almério se firma como um dos grandes nomes da música brasileira contemporânea, criando uma obra que dialoga profundamente com o presente, sem perder de vista a profundidade emocional e poética que permeia sua carreira.

Assista o vídeo da faixa-título “Nesse exato momento” com a participação especial de Chico Chico:

Crédito capa: Renata Pires com arte de Inês Costa e Thiago Liberdade


João Paulo Silva – @oviajantedasestrelas

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