A Ilusão da Realidade

Uma reflexão sobre a consciência e a liberdade

4 min. leitura

Desde os primórdios da filosofia, grandes pensadores já questionavam a natureza da realidade e da identidade humana. Platão, em sua alegoria da caverna, sugeriu que vivemos em um mundo de sombras, projetado por condicionamentos que nos impedem de enxergar a verdade. Friedrich Nietzsche, por sua vez, criticou as estruturas que moldam a sociedade, argumentando que muitas das nossas crenças são impostas, e não escolhidas. Jiddu Krishnamurti, em sua abordagem radical, afirmava que “não é sinal de saúde estar bem ajustado a uma sociedade profundamente doente”. 

A sociedade nos ensina desde a infância a obedecer antes de questionar e aceitar antes de duvidar. O sistema educacional, os meios de comunicação e as normas sociais moldam os nossos arquétipos e desejos, além dos nossos valores sem que percebamos absolutamente nada. Erich Fromm descreveu esse fenômeno como um “medo da liberdade”, no qual o indivíduo, diante da possibilidade de autonomia, prefere se refugiar em crenças e padrões pré-determinados, do que questionar o “status quo”. 

Mas e se tudo o que acreditamos ser real não passasse de um roteiro escrito antes mesmo de nascermos? E se as nossas escolhas fossem, na verdade, meras respostas automatizadas a um condicionamento tão profundo que nem percebemos a sua existência? Carl Jung falava sobre o inconsciente coletivo, uma estrutura psicológica que nos impele a agir de acordo com padrões ancestrais e culturais, muitas vezes sem nenhuma consciência da sua influência. Nossos desejos, nossas ambições, nossos medos são realmente nossos ou são apenas reflexos do meio em que crescemos e recebemos a programação social? 

A neurociência contemporânea sugere que grande parte das decisões que tomamos são processadas pelo cérebro antes mesmo de chegarem à nossa consciência. Estudos de Benjamin Libet indicam que a “vontade” surge no nível neural antes de ser percebida conscientemente, questionando a própria existência do livre-arbítrio. Isso significa que o que interpretamos como escolhas racionais podem ser, na verdade, o resultado de padrões pré-programados sutilmente por experiências passadas na educação social. 

Se tudo é uma construção social e mental, então o que seria real? Sartre afirmava que “a liberdade reside na consciência da própria condição”. Para Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto e criador da logoterapia, mesmo em meio ao caos e à opressão, o ser humano tem a liberdade última, que é a escolha da própria atitude diante da realidade. Assim, a verdade não está em um conceito absoluto imposto por terceiros, mas na sua capacidade de perceber e reconstruir a nossa própria existência, libertando-nos das amarras invisíveis que nos prendem. 

Sim, eu sei, que essa liberdade assusta e não foi à toa que o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard chamava essa sensação de “angústia existencial– como uma espécie de vácuo deixado em nós quando percebemos que nada nos define além das nossas próprias escolhas. Para muitos, é bem mais cômodo permanecer dentro da estrutura conhecida, ainda que ilusória, do que encarar o abismo dessa incerteza aviltante. 

O desafio, portanto, não é simplesmente reconhecer essa ilusão, mas atravessá-la, e isso exige um olhar mais crítico sobre as nossas crenças, um desprendimento do desejo por segurança absoluta e uma aceitação do desconhecido. Como Krishnamurti dizia, “a verdade é uma terra sem caminhos” – cabendo a cada indivíduo trilhá-la por si mesmo. 

A pergunta que não quer calar aqui é: Você está realmente pronto para atravessar essa fronteira ou prefere continuar vivendo dentro da sua ilusão? A escolha, como sempre foi e continuará sendo somente sua, viver ou não viver na bolha. 

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